O chanceler alemão, Olaf Scholz, advogou esta quinta-feira a construção de um gasoduto a partir de Portugal, passando por Espanha e França, até ao centro da Europa, para acabar com a atual dependência energética da Rússia.
"Estou muito empenhado num gasoduto que, infelizmente, nos faz falta hoje, o gasoduto que deveria ter sido construído entre Portugal e Espanha, passando pela França e indo até à Europa Central", disse aos jornalistas numa conferência de imprensa em Berlim. "Seria uma enorme contribuição para aliviar a situação do abastecimento."
Scholz também adiantou que já abordou esta ideia com os líderes de Portugal, Espanha, França e com a Comissão Europeia em Bruxelas, e assegura que tem exercido fortes pressões a favor da criação deste projeto.
"Eu, juntamente com os meus dois colegas de Espanha e Portugal, mas também em conversas com o Presidente francês e o Presidente da Comissão Europeia, tenho defendido fortemente que abordemos um projeto desta natureza."
Questionado sobre as declarações de Scholz esta manhã, o Governo português não quis comentar, embora o secretário de Estado da presidência do Conselho de Ministros tenha reconhecido a importância e urgência desta questão.
"As interligações com o resto da Europa são uma grande prioridade estratégica nacional, não foram tratadas neste Conselho de Ministros mas o Governo tem todos os dias, obviamente, acompanhado essa questão e colocado essa matéria no centro das suas prioridades", garantiu André Moz Caldas em conferência de imprensa.
MidCat, o projeto suspenso
Em Berlim, o chanceler alemão lamentou a interrupção de um projeto semelhante ao agora proposto, há alguns anos -- o MidCat, um gasoduto que serviria para ligar a Península Ibérica ao sul de França, que na altura foi considerado pouco económico dado o preço barato do gás natural importado à Rússia.
No rescaldo da invasão da Ucrânia pela Rússia, no final de fevereiro, o primeiro-ministro português já tinha defendido "o aumento das interconexões entre Portugal e Espanha e de Espanha com o conjunto da Europa" para mitigar a dependência europeia em cerca de 40% do gás russo.
Na altura, António Costa destacou esta opção como "absolutamente decisiva para aumentar significativamente a segurança energética da Europa".
Recentemente, também o secretário de Estado da Energia defendeu que, para acabar com a dependência energética de Moscovo, a UE tem de repensar a sua estratégia, focando atenções na Península Ibérica e na sua abordagem à segurança energética -- fornecedores diversificados e uma aposta maior no Gás Natural Liquefeito.
[atualizado às 15h30]