Uma ponte com pouca redundância, em que a rutura de um dos pilares de suspensão pode levar ao colapso. Esta será a causa mais provável para a queda da ponte Morandi, em Génova, Itália, na opinião do coordenador Comissão de Estruturas da Ordem dos Engenheiros, Eduardo Cansado Carvalho.
“Esta ponte tem apenas quatro tirantes [pilar de suspensão], o que em engenharia é uma ponte com pouca redundância. Portanto, a rutura de um destes tirantes pode ser uma das causas de colapso da torre. Isto pode gerar um desequilíbrio de esforços da torre e levar à queda”, afirma o especialista.
Parte da ponte Morandi, em Génova, caiu esta terça-feira atingindo vários edifícios e provocou, pelo menos, 22 mortos, entre os quais uma criança. São os dados mais recentes, avançados pelo ministro dos Transportes, Edoardo Rixi, à televisão italiana RAI.
Eduardo Cansado Carvalho afasta a possibilidade de haver um problema nas fundições da ponte e não atribuiu especial relevo às chuvas fortes que têm caído nos últimos dias.
A Autoestradas de Itália afirma que estavam em andamento trabalhos para consolidar a laje do viaduto e que foi instalado um guindaste para permitir que as atividades de manutenção começassem.
"As obras e o estado do viaduto eram alvo de constante monitorização”, diz a empresa.
Pode acontecer em Portugal?
O especialista da Ordem dos Engenheiros diz que não pode afirmar que uma situação destas não possa ocorrer em Portugal. “Ninguém pode fazê-lo”, garante.
Ainda assim, Eduardo Cansado Carvalho afirma que a favor de Portugal, em relação a Itália por exemplo, joga o facto de a maior parte das pontes ser dos anos de 1990.
“Ou seja, são mais novos e à partida corremos menos riscos. Isso não quer dizer que não seja necessário fazer monitorização e manutenção”, acrescenta.
Cansado Carvalho diz que agora já não se fazem pontes com tão poucos pontos de sustentação, dando o exemplo da portuguesa Ponte Vasco da Gama.
“Esta é uma ponte com apenas dois tirantes de cada lado da torre, e que tem este inconveniente: rompendo um, perde o apoio total. Nas novas infraestruturas, com dez e quinze tirantes, mesmo que haja um problema num, os outros aguentam a carga”, começa por explicar o engenheiro.
“Para substituir um dos tirantes também é um trabalho difícil porque ao contrário de um ponte nova em que há mais pontos de apoio, neste caso não existem”, acrescenta..
Em 2016, Antonio Brencich, professor associado de Betão Estrutural da Universidade de Génova, em entrevista disse que "a ponte Morandi é uma falha de engenharia".
"Esta ponte está errada. Mais cedo ou mais tarde, terá que ser substituída. Eu não sei quando. Mas haverá um tempo em que o custo de manutenção será maior do que o da de substituição. No final dos anos 90, mais de 80% do custo de construção já estava gasto em reparações", afirmou.