O Vaticano divulgou esta terça-feira o documento (“Instrumento laboris”) que vai orientar os trabalhos da segunda sessão do Sínodo dos bispos, a decorrer em Roma, de 2 a 27 de outubro.
O objectivo deste novo documento é ajudar o método de trabalho dos participantes que se reunirão na próxima assembleia de outubro e favorecer “a oração, o diálogo, o discernimento e o amadurecimento de um consenso”, com vista a um documento final que será entregue ao Papa.
O texto articula-se em várias secções e resulta de um período de escuta e reflexão desencadeado, em todas as igrejas de todos os continentes, após a realização da primeira assembleia sinodal, em outubro de 2023. Das 114 conferências episcopais que existem no mundo, 108 enviaram respostas.
”O percurso realizado até à data conduziu ao reconhecimento de que uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta, capaz de acolher e de acompanhar, de ser considerada casa e família”, lê-se nos texto. No entanto, também se reconhece que há pessoas que, “por diversas razões, são ou sentem-se excluídas ou à margem da comunidade eclesial ou têm dificuldade em encontrar no seio da mesma um reconhecimento pleno da sua dignidade e dos seus dons. Esta falta de acolhimento rejeita-os, dificulta o seu percurso de fé e de encontro com o Senhor, e priva a Igreja do seu contributo para a missão”.
Neste contexto, o “Instrumentum laboris” considera “sumamente oportuno criar um ministério de escuta e acompanhamento reconhecido e eventualmente instituído, que torne concretamente palpável um aspeto tão característico de uma Igreja sinodal.”
Ou seja, propõe uma “porta aberta” da comunidade, através da qual as pessoas podem entrar sem se sentirem ameaçadas ou julgadas: “As formas de exercício deste ministério deverão ser adaptadas às circunstâncias locais, com base na diversidade de experiências, estruturas, contextos sociais e recursos disponíveis.”
O papel das mulheres na tomada de decisões a Igreja e a questão do acesso aos ministérios são igualmente considerados, incluindo o discernimento sobre o diaconado feminino (cuja reflexão não está encerrada e envolve, por decisão do Papa, o próprio Dicastério para a Doutrina da Fé).
Na resposta à questão «Como ser Igreja sinodal em missão?», o documento de trabalho revela, a propósito da missão do Papa em prol da unidade, que “é preciso também revisitar a dinâmica que une sinodalidade, colegialidade e primado, para que possa alimentar as relações entre as instituições através das quais encontra uma expressão concreta”.
Aberto a novas formas do exercício petrino, o Bispo de Roma, enquanto princípio visível de unidade da Igreja, “é o garante da sinodalidade, compete-lhe chamar toda a Igreja à ação sinodal, convocando, presidindo e confirmando os resultados dos Sínodos dos Bispos e deverá exercer um cuidado vigilante para que a Igreja cresça num estilo e numa forma sinodal".
Aos jornalistas, reunidos na Sala de Imprensa do Vaticano, o Cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, disse que este processo prolongado de escuta diferenciada “vai ajudar a Igreja sinodal a discernir a palavra de Deus para os homens e mulheres de hoje, a fortalecer os mensageiros do Evangelho, a curar as feridas da humanidade e a incutir esperança nos corações”.
Na mesma conferência de imprensa, o Cardeal Jean-Claude Hollerich, relator geral da próxima Assembleia do Sínodo dos bispos, sublinhou os frutos que têm emergido dos diversos relatórios enviados pelas Igrejas locais, como por exemplo, “o desejo fortemente expresso de uma Igreja de relações, não burocrática ou de estruturas”.
Para Hollerich, estes resultados mostram que, “ainda antes da Assembleia de outubro, o Sínodo já está a modificar a nossa maneira de ser e de viver a Igreja”.