O ministro das Finanças admitiu esta sexta-feira que a previsível subida dos juros é um fator externo que vai dificultar ainda mais a vida das famílias e das empresas portuguesas, com consequências, nomeadamente, no pagamento dos empréstimos.
O alerta de Fernando Medina foi feito na última audição parlamentar ao Governo, no âmbito da ronda de audições da fase de especialidade do Orçamento do Estado para 2022 (OE 2022). O ministro garantiu que Portugal vai cumprir a meta do crescimento, apesar do cenário que se perspetiva com o esperado aumento dos juros.
“Sabemos que o aumento de preços já pesa sobre os orçamentos das famílias e das empresas e não sabemos, com certeza e rigor, quando regressaremos à normalidade”, afirmou, lembrando que “as perspetivas da subida de juros na zona euro são também cada vez mais evidentes”.
Fernando Medina recordou que esta semana, “a presidente do BCE sinalizou de novo essa intenção já no inicio do verão”.
A concretizar-se “um agravamento das taxas diretoras terá, a prazo”, sublinhou o ministro, “repercussões nos custos de financiamento da República, mas não só”, pois “refletir-se-á, como tenho sublinhado, no esforço pedido às famílias e às empresas para suportarem os seus próprios empréstimos”.
Nesta audição, o ministro das Finanças foi ainda confrontado, pela oposição, com a perda de poder de compra dos portugueses, tendo, por outro lado, negado que este seja um orçamento de austeridade, ressalvando, contudo, que mas lembra que não pode ajudar todos.
Fernando Medina manifestou abertura para incluir propostas da oposição, mas rejeitou esta tarde a medida da Iniciativa Liberal (IL), que visa aplicar uma taxa de IRS de 14,5% a todos os trabalhadores com menos de metade do salário dos deputados, mantendo todas as isenções que existem até agora.
“De forma muito clara, naturalmente que rejeitamos e rejeitamos o caminho dessa orientação”, afirmou, categoricamente, sobre a proposta da IL de redução de escalões de IRS para rendimentos mais baixos, proposta essa que a Iniciativa Liberal acreditava poder ser aprovada.
Perante a resposta de Medina, a deputada liberal, Carla Castro, anunciou a suspensão da participação do seu partido nesta audição: “Se prescinde de repor o poder de compra aos portugueses, eu também vou prescindir quer do tempo que temos, quer das segundas rondas, porque este orçamento não tem salvação”.
Apesar deste episódio parlamentar, nem todas as contribuições foram afastadas. O ministro admitiu alterações ao nível do poder local e da descentralização, assim como a avaliação ao englobamento obrigatório das mais valias de curto prazo.