"A fazer exames a toda a hora", Luaty resiste há 29 dias sem comer
19-10-2015 - 17:03

O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal está a fazer contactos para visitar o activista.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal está a fazer contactos para visitar Luaty Beirão, “rapper” e activista dos direitos humanos que está há 29 dias em greve de fome em Angola.

Em resposta à Renascença, o gabinete de Rui Machete confirma que se mantêm os contactos com as autoridades angolanas e com a família do activista.

Luaty Beirão (conhecido no meio hip-hop como Ikonoklasta e Brigadeiro Mata-Frakus) é cidadão luso-angolano, tem passaporte português, mas é tratado pela justiça angolana como cidadão nacional. O Governo português diz que está a acompanhar a situação, desde o início.

Luaty, de 33 anos, é um dos 15 jovens angolanos encarcerados em Junho e formalmente acusados, desde 16 de Setembro, de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, um crime que admite liberdade condicional até serem julgados.

Denunciando que está detido ilegalmente, por se ter esgotado o prazo máximo de 90 dias de prisão preventiva (20 de Junho a 20 de Setembro) sem nova decisão do tribunal de Luanda, Luaty Beirão, também engenheiro de formação, entrou em greve de fome.

Transferido de um hospital-prisão da capital angolana para uma clínica privada ao 25.º dia de greve, o activista luso-angolano já não se desloca pelos próprios meios, embora se mantenha lúcido, segundo a sua mulher, Mónica Almeida.

A embaixada portuguesa em Luanda recebeu, na semana passada, os familiares dos detidos. São 15 ao todo, dos quais foram transferidos 14 para o hospital-prisão. Luaty Beirão está numa clínica para ter garantido o acompanhamento médico necessário, tendo em conta o seu estado de saúde.

"Exames a toda a hora"

Luaty encontra-se estável e a receber visitas, afirmou à Renascença o luso-angolano Pedro Coquenão, também ele músico (enquanto Batida) e amigo do activista. Coquenão encontra-se em Luanda para acompanhar o amigo e a família.

“Está todos os dias a fazer exames a toda a hora. Estão constantemente a medir tudo o que são sinais vitais dele. Está a soro, como já está há algum tempo – não o tempo que deveria. O soro que ele toma é o soro básico – não é o soro com nutrientes, é o soro que é considerado fazer parte da greve de fome (serve apenas para hidratar, sem ele não estaria entre nós há muito tempo)”, diz ao telefone.

“Ele está OK, está estável. O resultado destes exames dão resultados normais para quem está sem comer há tantos dias”, acrescenta.

Pedro Coquenão conta que Luaty tem recebido visitas de amigos e familiares, bem como cartas e mensagens de apoio. Na clínica, foi visitado por uma delegação da União Europeia, que inclui uma representante de Portugal.

“Houve uma visita de uma comitiva de embaixadores da UE", confirma. “O conteúdo da conversa foi saber como é que ele se sentia, a determinação em continuar com a greve de fome e as razões. Quiseram, no fundo, ter um esclarecimento cara a cara”, diz.

Pedro Coquenão reforça que esta greve de fome é pela libertação de Luaty e dos 14 jovens presos desde Junho para que possam aguardar julgamento em liberdade. Um deles, Albano Bingo-Bingo, está também em greve de fome.