O secretário-geral socialista e a porta-voz do PAN convergiram na crítica ao chumbo do Orçamento, que precipitou a atual crise política, mas divergiram em temas como a exploração de lítio e a construção do novo aeroporto.
António Costa e Inês Sousa Real travaram um debate pré-eleitoral para as legislativas antecipadas de 30 de janeiro, na TVI, este sábado, com a duração de cerca de 25 minutos, que decorreu sempre de forma cordial.
Na primeira metade do frente-a-frente, dedicada a questões de governabilidade, quase não se registaram diferenças entre as posições assumidas pelo líder socialista, atual primeiro-ministro, e pela deputada do PAN.
António Costa elogiou o diálogo "muito construtivo" que os seus governos têm mantido com o PAN desde 2016, assinalou o contributo que este partido tem dado para afirmar a centralidade de causas essenciais como a emergência climática e a proteção e bem-estar animal, e apontou o sentido de responsabilidade deste partido na viabilização do Orçamento do Estado para 2022, que acabou por ser chumbado.
"Além do PS, foi o único partido que não contribuiu para esta crise política", disse.
Inês Sousa Real salientou depois que o PAN "não contribuiu para a instabilidade política" e defendeu que "os portugueses não queriam uma crise política em cima de uma crise económica".
Sobre uma eventual entrada do PAN num Governo do PS, António Costa deixou essa questão para depois do dia 30 de janeiro: "Os portugueses decidirão como se governa na próxima legislatura".
Inês Sousa Real declarou neste ponto que o PAN "poderá contribuir tendo em conta a expressão que os portugueses entenderem dar" à sua força política nas eleições legislativas antecipadas.
O secretário-geral do PS e a porta-voz do PAN apresentaram posições não muito diferentes em matérias como o desdobramento dos escalões do IRS, taxa de carbono, medidas de transição climática, como o encerramento das centrais a carvão, e questões de proteção animal.
A meio da discussão destes temas, António Costa lançou um reparo a Inês Sousa Real de caráter político, dizendo ter dificuldade em compreender a razão que leva o PAN a considerar-se equidistante entre PS e PSD, quando os sociais-democratas, no seu programa, "são favoráveis à liberalização da plantação do eucalipto" e querem voltar a colocar a proteção animal sob a tutela da Direção-Geral de Veterinária.
"Terei certamente a oportunidade de discutir isso com o doutor Rui Rio, mas, agora, de facto, o PAN distancia-se completamente dessas opções para o país", respondeu Inês Sousa Real, fazendo depois uma referência ao chamado "Bloco Central".
"Quem tem votado alinhadamente com o PSD tem sido o PS, e não o PAN", contrapôs.