O BCE já estará em condições de começar a baixar as taxas de juros, defendeu o governador do Banco de Portugal, quando questionado se isso poderia acontecer já em abril ou junho. Para Mário Centeno há sinais positivos no abrandamento do crescimento dos salários o que poderá levar o Banco Central Europeu a baixar as taxas de juro. No entanto, não arriscou uma data.
"A minha leitura pessoal é que este abrandamento dos salários é condição essencial para que toda a previsão que é apresentada e todas as perspetivas se possam materializar", disse.
Além disso, Centeno espera ver "um arrefecimento" dos preços das habitações em Portugal e do número de vendas — ou seja, que os preços deixem de subir à velocidade dos últimos tempos – mas sem consequências para a estabilidade do setor financeiro.
"O que é esperado face ao impacto da política monetária é um arrefecimento, uma desaceleração do crescimento do preço das habitações, claramente uma redução do número de transações", disse Mário Centeno, na apresentação do Boletim Económico de março, em Lisboa. Segundo Centeno, os dois indicadores têm evoluído até momento de forma compatível com a estabilidade do setor da banca, existindo mitigantes que permitem perspetivar que assim continue.
No Boletim Económico, divulgado esta sexta-feira, o Banco de Portugal (BdP) considera que o ciclo restritivo de política monetária iniciado pelo Banco Central Europeu (BCE) em julho de 2022 terá contribuído para a recente redução das transações de habitações em Portugal, e em menor escala, "para o comportamento dos preços (que não se têm reduzido, mas desacelerado)".
O regulador bancário assinala que também se tem verificado uma menor reação das transações de habitações novas.
O BCE subiu dez vezes desde meados de 2022 as taxas de juro, colocando-as no nível mais elevado de sempre, como forma de tentar reduzir a taxa de inflação, que disparou em 2022, e secar liquidez na economia.
Quando o BCE altera as taxas de juro diretoras, tal reflete-se no conjunto da economia, tendo impacto por exemplo nos empréstimos bancários, nos empréstimos a nível do mercado, no crédito à habitação, nas taxas de juro dos depósitos bancários ou em outros instrumentos de investimento.
Contudo, desde outubro de 2023, que a instituição presidida por Christine Lagarde mantém as taxas de juro em 4,5% - o nível mais elevado desde 2001 -, a facilidade de crédito (que empresta aos bancos durante a noite) em 4,75% e a facilidade de depósito (que remunera as reservas excedentárias durante a noite) em 4%.