Paulo Raimundo e Rui Tavares estiveram, na tarde desta terça-feira, frente a frente no 16.º debate televisivo para as legislativas de 10 de março. Os líderes da CDU e do Livre recusaram o apelo ao voto útil à esquerda que tem sido feito pelo líder do PS, Pedro Nuno Santos, e divergiram no tema da emigração: Raimundo quer que os jovens não saiam, mas Tavares prefere dar condições para o regresso.
Cumprindo o hábito que tem sido mantido nos debates televisivos, os primeiros minutos foram dedicados a cenários de governabilidade após as eleições legislativas. O secretário-geral do PCP admitiu que é necessário haver uma maioria diferente à esquerda para que seja possível arranjar as respostas necessárias para o país. Paulo Raimundo recordou o “papel determinante” do partido, nos acordos parlamentares do PCP, do PEV (Partido Ecologista “Os Verdes”) e do BE com o PS, assinados em 2015.
“Não vamos eleger nem primeiro-ministro, nem secretários de Estado, nem ministros das Finanças. Nada disso. Vamos eleger 230 deputados e será da configuração final da Assembleia da República que se encontrarão as saídas para o problema”, afirmou Paulo Raimundo, acrescentando que, no entender da CDU, “há uma coisa que a experiência demonstra, é que o Partido Socialista não virá a soluções necessárias e respostas necessárias para o país por vontade própria”.
No tema da governação e de compromissos pós-eleitorais, Rui Tavares alinha no mesmo diapasão de Raimundo. “Era só o que mais faltava que os partidos demonstrassem essa autossuficiência. A melhor maneira de implementar as ideias do Livre é votar no Livre, a melhor maneira de implementar as ideias do PCP, é votar no PCP ou na CDU”, sublinhou.
Já no caso do PS, “às vezes nem para implementar as ideias do PS serve, como nós vimos com a maioria absoluta do PS”, disse Rui Tavares, atacando “uma pressão sobre o eleitorado que deu no que deu”, crente que “as pessoas estão muito avisadas perante esse tipo de chantagens”.
O deputado do Livre mostrou-se convicto de que uma maioria à esquerda "de progresso e ecologia" é "mais coerente", contrapondo que à direita existe "uma incoerência muito grande" e "um processo de canibalização interna".
Fixar os jovens ou ajudar a voltar?
Um dos temas em destaque no debate foi a emigração de jovens, onde os dois líderes de esquerda divergiram nas soluções. Paulo Raimundo defendeu que o problema não está em quem sai “por vontade própria”, mas que é necessário criar condições para as pessoas não precisarem de sair do país.
O problema diz, está nos que “são empurrados para fora do país e que fazem cá uma falta extraordinária”, assegurou o líder da CDU. “Nós formamos, nós damos a experiência laboral e depois, quando eles estão em condições de pôr esse conhecimento todo ao serviço do país, vão trabalhar para Holanda, para a Alemanha, para onde for, onde são bem tratados, aonde têm salários condignos”, frisou.
Apesar de concordar na questão dos salários, Rui Tavares acredita que a emigração faz parte do espaço de liberdade no qual Portugal se encontra, garantindo que o que é necessário é criar condições para os portugueses voltarem ao país.
“No espaço de liberdade em que estamos, é natural que as pessoas emigrem, mas o que é necessário, o que é urgente, é que as pessoas possam voltar e que o país seja atrativo para que as pessoas possam voltar”, salientou o líder do Livre.
“O país tem que dar a oportunidade às pessoas que são dinâmicas de terem asas para voar, porque esse dinamismo de alguns é que também nos permite ter um Estado social que garante dignidade para todos”, destacou Rui Tavares.
As divergências entre os dois partidos surgiram ainda nos temas da União Europeia e do apoio militar à Ucrânia.
Questionado sobre se a posição do PCP no que toca ao conflito pode afetar os resultados eleitorais, Raimundo respondeu que "estranharia que uma força pela paz fosse penalizada por querer a paz" e criticou o fornecimento de material militar à Ucrânia.
O dirigente comunista defendeu que o partido sempre salientou que "a guerra não começou em 2022, mas sim em 2014" e que os intervenientes não eram apenas a Ucrânia e a Rússia mas também os EUA, a NATO e a União Europeia "que não é neutra neste processo".
Rui Tavares defendeu a importância do projeto europeu no contexto internacional atual, considerou que não se pode "abandonar a Ucrânia" e manifestou-se contra todos os imperialismos, "seja o dos EUA ou o russo".
Para o Livre é necessária "uma política externa ancorada na autodeterminação dos povos", criticando o PS por estar a "arrastar os pés" no reconhecimento do estado da Palestina.
André Ventura e Mariana Mortágua são os próximos a debater, estando frente a frente a partir das 22h, RTP3.