AHRESP quer apoio a fundo perdido. "Medidas paliativas não vão resolver o problema"
13-04-2020 - 09:40
 • Miguel Coelho (entrevista), Inês Braga Sampaio (texto)

Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, defende que medidas como o "lay-off" ou moratória só vão criar endividamento. 80% das empresas prevê uma faturação de zero nos próximos dois meses e muitas não sabem "quando e se vão abrir".

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As medidas tomadas pelo Governo não são suficientes para minimizar o impacto económico da pandemia do novo coronavírus no setor da hotelaria e restauração. Garantia deixada pela secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP).

Em entrevista à Renascença, no programa As Três da Manhã, Ana Jacinto assume que "o cenário é muito preocupante", com muitos empresários que encerraram os seus negócios e que "à data de hoje, não sabem quando e se vão abrir". Apesar do "esforço tremendo" do Governo para apoiar as empresas e criar medidas, a AHRESP salienta que "os empresários não sentem que haja uma medida de apoio efetivo".

"Temos o 'lay-off', que foi sendo ajustado e melhorado, mas a verdade é que a empresa tem de suportar 30% dos salários. Se 80% das empresas prevê uma faturação de zero nos próximos dois meses, como é que vai suportar estes 30%? Com medidas de financiamento, estamos a criar endividamento. Todas as medidas que têm vindo a ser implementadas vão nessa lógica, de alívios temporários que depois têm de ser pagos. Veja-se a suspensão das rendas, a suspensão de alguns pagamentos ao Estado. Não há uma isenção. Há é uma moratória, mas depois estes valores têm todos de ser pagos", assinala.

Ana Jacinto oferece soluções, para tornar a ação do Governo mais eficiente: "Por um lado, a isenção destes pagamentos e não a suspensão. Por outro, não temos outra alternativa senão ter apoio a fundo perdido nas empresas. As empresas precisam de liquidez e não há outra forma. Por mais que queiramos encontrar medidas paliativas, elas não vão resolver o problema, porque estamos a criar endividamento às empresas e é isso que nós não queremos. Queremos é que elas abram as portas abram os seus postos de trabalho e que se possam reerguer."

Apoios devem ser centralizados e "take-away" é residual


Tem havido vários hotéis a oferecer quartos, durante a pandemia do novo coronavírus, para permitir isolamento e descanso a profissionais de saúde, para que não arrisquem contaminar as suas famílias.

A secretária-geral da AHRESP elogia a iniciativa, contudo, salienta que é importante reunir todo esse tipo de ideias numa só base de dados.

"Há muitas iniciativas soltas, mas há uma plataforma promovida pelo Turismo Portugal que tenta reunir todas estas vontades e todos estes proprietários que querem colocar os seus quartos disponíveis. Estamos a tentar fazer o mesmo com a restauração, para refeições a custos reduzidos. Estas iniciativas estão muito dispersas e estamos a tentar centralizá-las na mesma plataforma", explica Ana Jacinto.

O mesmo se aplica a restaurantes que estejam a virar-se para o serviço de "take-away", de forma a manter negócio durante a crise e escoar "stock". Mudança de paradigma que ainda tem expressão "residual".

"Para já, nem todos os estabelecimentos que querem fazer 'take-away' podem. Há regras a salvaguardar. Os espaços de confeção muitas vezes são pequenos e não se podem respeitar as regras de distanciamento. E nem sempre é rentável. Estamos a procurar lançar uma plataforma, o 'Estamos Abertos', em que reunimos todos os estabelecimentos a fazer 'take-away' para os ajudarmos a vender mais alguma coisa e ajudar os consumidores a encontrar estabelecimentos abertos. Esperamos que na próxima semana já esteja no ar", revela a secretária-geral da AHRESP.