Há praticamente 18 anos que não havia uma visita de Estado do Presidente português a São Tomé e Príncipe. A última foi de Jorge Sampaio, no Verão de 2000, a caminho de uma cimeira da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) que iria decorrer em Maputo. Passado tanto tempo, Marcelo Rebelo de Sousa começa esta terça-feira uma visita de três dias, com a qual quer “ir mais longe” na cooperação entre os dois países.
“Tendo passado tantos anos significa que entramos num novo patamar, numa nova fase no relacionamento com s. tomé e principe”, afirmou o Presidente da República à chegada a São Tomé, pela meia-noite de segunda-feira. “Um novo patamar que começar com esta minha visita, continuará com outras visitas, quer politicas quer empresariais e em que há a preocupação de cobrir tudo: educação, saúde, solidariedade social, empresas, defesa, tudo o que se pode cobrir na medida do possível”, continuou Marcelo, avisando, desde já, para “pontos fora do programa”.
“Sabem que faz parte da minha criatividade haver pontos fora programa”, brincou o Presidente em declarações aos jornalistas que o aguardavam à chegada ao hotel onde vai ficar instalado.
“A ideia”, prosseguiu Marcelo, “é dizer que São Tomé e Príncipe é prioritário para Portugal, é prioritário para o Presidente da República, é prioritário para os deputados, que aqui estão, é prioritário para o governo, que também aqui está”. Nesta visita, o Presidente é acompanhado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que viajou com ele no Falcon da Força Aérea, e por deputados dos vários grupos parlamentares que, na sua maioria, vieram no sábado, em voo comercial. Outra parte da comitiva, assim como os jornalistas que acompanham a visita, chegaram segunda-feira de manhã num avião militar C-130.
O chefe de Estado português foi também questionado sobre as declarações do primeiro-ministro de São Tomé, Patrice Trovoada, que, na semana passada, em entrevista à agência Lusa, disse que a cooperação portuguesa deve ser repensada porque “as coisas não estão ao nível mais desejável”.
Marcelo diz que não viu as declarações como críticas. “Não diria que tenham sido criticas, foram anseios que nós temos também”, respondeu o Presidente, acrescentando que, tanto na vida politica como familiar “é preciso de quando em vez dar saltos qualitativos”.
“É preciso de quando em vez saber recriar, de inventar e trata-se de dar um salto, ou pelo menos um passo para um patamar diferente e esse patamar é importante para São Tomé e Príncipe, mas também para Portugal e vai ser importante no futuro próximo e sinto que os são-tomenses esperariam que acontecesse”, acrescentou ainda o Presidente, concluindo que o que está em causa “não é uma questão de surpresa, é um problema de sedimentar o que se tem feito, vendo como é que se passa para o momento seguinte”.
Educação, saúde e uma homenagem
A visita oficial do Presidente português começa esta terça-feira de manhã, com honras militares junto ao Palácio do Povo, seguindo-se um encontro entre os presidentes dos dois países. Depois, Marcelo visita a Assembleia Nacional de onde sairá para um momento de saudações a grupos culturais e populares.
O Presidente português almoça com organizações não governamentais, à tarde abre o fórum económico luso-santomense, visita o navio Zaire, que está numa missão de cooperação, e tem um encontro com profissionais portugueses nas áreas da saúde e da educação. Ao fim do dia há jantar oficial.
Na quarta-feira, haverá a inauguração da Escola Portuguesa, que já está a funcionar e à qual Marcelo dará uma biblioteca e onde terá um encontro-debate com alunos. O almoço será oferecido pelo primeiro-ministro e depois irá a Neves, onde há uma importante missão das irmãs Franciscanas hospitaleiras. Aí também haverá tempo para uma inauguração de um centro desportivo oferecido pelo Benfica.
A tarde de quarta-feira será, certamente, marcada pela deposição de uma coroa de flores no “Monumento dos Mártires da Liberdade”, um monumento recente que lembra um episódio infeliz da história comum dos dois países conhecido como o “Massacre de Batepá” que ocorreu em 1953. Centenas de santomenses negaram-se a ser contratados à força para as plantações de cacau e café ou para trabalharem nas obras públicas. Em represália, o governador português, Carlos Gorgulho, desencadeou uma onda de repressão, levada a cabo por representantes da autoridade e colonos, prendendo pessoas, incendiando casas e propriedades e maltratando até á morte cerca de um milhar de pessoas.
Depois dessa homenagem, Marcelo jantar com a comunidade portuguesa.
O último dia da estadia, quinta-feira, é uma visita à Região autónoma do Príncipe, onde Marcelo também vai oferecer livros, visitar o Parque da Biodiversidade e ter um encontro com curandeiros.