O secretário-geral do PS, António Costa, considerou hoje que o presidente do PSD, Luís Montenegro, não disse o que seria necessário para se demarcar claramente do partido de André Ventura, "com o Chega nada, nada, nada".
Em entrevista à RTP, transmitida hoje à noite, na qualidade de secretário-geral do PS, António Costa alegou que Luís Montenegro "quer manter uma situação equívoca" e está a ajustar a sua atuação política para "que se distinga pouco o PSD para os eleitores do Chega".
Interrogado se não ficou descansado quando Luís Montenegro numa entrevista recente excluiu governar ou aceitar o apoio de partidos "racistas, nem xenófobos, nem oportunistas, nem populistas", o líder dos socialistas e primeiro-ministro realçou nessa frase "o que não diz".
"Não disse o que era necessário dizer: não haverá nenhum acordo com o Chega", realçou.
Para António Costa, o que o presidente do PSD deveria ter dito era "com o Chega nada, nada, nada", mas "não disse, e era isso que deveria ter dito".
"O grande problema", segundo o secretário-geral do PS, "não é a dimensão do Chega em si -- que já é significativa --, mas é o que o Chega condiciona e determina a ação política da direita democrática".
No seu entender, "hoje o PSD tem muitas vezes um comportamento, uma atitude, um vocabulário que não corresponde àquilo que é um partido institucional".
António Costa deu como exemplo ter havido "um vice-presidente do partido" -- Paulo Rangel -- "a dar uma conferência de imprensa pondo em causa a visita de um chefe de Estado de um país irmão como é o Brasil" e identificou uma "enorme degradação no debate político no vocabulário que hoje a direita vai utilizando".
"Pior do que a situação equívoca, é que todo o posicionamento político do PSD, todo o tipo de discurso que o PSD vai tendo sobre as questões das migrações, sobre o funcionamento das instituições, o vocabulário que vai utilizando revela uma preocupação fundamental do doutor Montenegro, que é que se distinga pouco o PSD para os eleitores do Chega", sustentou.
Em relação ao ex-ministro Pedro Nuno Santos continua a ser "um dos grandes quadros" do PS e afirmou que a vida de um político "não é uma corrida de cem metros".
O secretário-geral do PS começou por reiterar a promessa de não interferir na escolha do seu sucessor e disse que o que tem procurado fazer é "identificar quem são os melhores quadros" do partido.
"Mobilizá-los para a ação política e dar oportunidade para que provem as suas capacidades e que possam ser tudo aquilo que eles desejem ser e que os militantes do PS desejem que eles possam ser", prosseguiu.
Em seguida, António Costa afirmou que "o Pedro Nuno Santos é indiscutivelmente um dos grandes quadros políticos do PS". Interrogado se continua a ser, respondeu: "Claro que é, isso é um dado objetivo".
Questionado sobre as polémicas em que Pedro Nuno Santos se envolveu, com destaque para a relacionada com a TAP, que levou à sua saída do Governo, não provocaram danos, o secretário-geral do PS relativizou.
"A atividade política é uma atividade que tem momentos de sucesso, tem momentos de insucesso, tem momentos bons, tem momentos negativos. A vida de um político não é uma corrida de cem metros. A vida de um político é uma vida, e ao longo dessa vida vai-se sendo sucessivamente avaliado", argumentou.
António Costa deu o exemplo do seu próprio percurso, recordando a derrota que teve em eleições autárquicas há 30 anos quando concorreu a presidente da Câmara Municipal de Loures.
"O engenheiro Demétrio Alves derrotou-me nessas eleições, faz parte da vida política. As pessoas têm de aprender a ter vitórias, derrotas", insistiu.
Nesta entrevista, conduzida pelo jornalista Hugo Gilberto, o secretário-geral do PS defendeu que é cedo para se falar das eleições presidenciais de 2026 ou de quaisquer outras eleições previstas para os próximos anos.
Interrogado se o atual presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, é um bom candidato a Belém e se o PS irá desta vez apoiar um candidato a Presidente da República, António Costa respondeu: "É tudo muito prematuro. Nós não podemos estar a discutir cada coisa tudo ao mesmo tempo. A vida política tem os seus tempos próprios".
"Há de chegar o momento em que se há de discutir quem é que são os candidatos [às várias eleições]", acrescentou.