Santana. "Aumentar despesas com segurança e defesa é tão inevitável como pagar o envelhecimento da sociedade”
01-04-2016 - 11:24

O antigo primeiro-ministro pede “cartas na mesa” na Europa. É preciso assegurar uma verdadeira política europeia de segurança e defesa, apela Santana Lopes. No programa “Fora da Caixa”, António Vitorino admite que a incapacidade das respostas antiterrorismo está ligada a cortes orçamentais nestas áreas de soberania.

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Pedro Santana Lopes diz que a Europa não pode esperar mais para se definir como uma união de países que partilham uma política de segurança e defesa. No rescaldo dos atentados de Bruxelas, quatro meses depois dos acontecimentos de Paris, o antigo primeiro-ministro diz que chegou o tempo em que todos os responsáveis políticos europeus vão ter que tomar decisões firmes.

“ Estamos ou não dispostos a voltar atrás com muito do que dissemos sobre os gastos na defesa e na segurança? Vamos fazer isto concertadamente a nível europeu ou não? Queremos a política comum de defesa ou não? Os gastos e o investimento que vai ser preciso, em defesa e em segurança, por parte da generalidade dos estados vai ter que aumentar. É uma realidade tão inevitável como a do envelhecimento das sociedades e das despesas que vai ser necessário assumir para fazer face a essa realidade”, diz o actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Embora descarte o conceito de uma “guerra ao terrorismo”, Santana insiste num trabalho conjunto ao nível da segurança interna e das polícias.

“Não consigo conceber a existência de uma União Europeia, com o que isso implica de abdicação de soberania dos estados, sem uma vertente de política de defesa comum. Ou há União Europeia, e temos que dar passos no sentido da defesa comum, ou não existe nada”, afirma o ex-primeiro-ministro no programa “Fora da Caixa” da Renascença, no qual semanalmente debate temas europeus com o antigo comissário António Vitorino.

Cortes orçamentais debilitaram frente antiterrorista

António Vitorino admite que a falha nas respostas ao terrorismo pode estar ligada à austeridade.

“Há um dado que sabemos ser verdade. Quando se fazem cortes orçamentais, as primeiras áreas a serem cortadas são as áreas de soberania, a defesa e a segurança. Temos que pôr a mão na consciência e perguntarmo-nos se não somos todos também co-responsáveis por alguma incapacidade na resposta”, sustenta o antigo ministro da Defesa na Renascença.

O comentador especializado em assuntos europeus reconhece que houve falhas de segurança que contribuíram para os atentados de Bruxelas, incluindo nos “canais não oleados” de transmissão de informação sensível dos Estados Unidos para serviços europeus, a propósito de indivíduos suspeitos de ligações a grupos terroristas.

“Estes atentados ocorrem num momento em que havia sinais de uma melhoria da troca de informações. Pode dizer-se agora que ela não era ainda suficiente”, insiste Vitorino, para quem os atentados que merecem o lamento de todos devem servir também para aprender mais sobre o inimigo que a Europa combate.

Vitorino diz que também “Portugal não pode baixar a guarda" nesta matéria.

Aproveitar a informação agora apurada

O antigo comissário constata que os ataques de Bruxelas permitiram identificar "ramificações muito mais vastas e complexas do que os serviços de segurança avaliavam até aqui”.

Nessa medida, estes atentados " não podem ser desperdiçados. É preciso que o manancial de informação que esta investigação desencadeada pelos atentados de Bruxelas está a fornecer às forças e serviços de segurança seja rapidamente utilizada para prevenir. A única solução para combater o terrorismo é prevenir”.

Santana Lopes não deixa contudo de estranhar a incapacidade de seguir o movimento de alguns dos autores dos atentados de Bruxelas.

“Por muito que a policia e os serviços de informações não possam estar em todo o lado, há aqui núcleos, nomeadamente esta célula identificada em Bruxelas e que estava relacionada com Paris, que é muito estranho como é que não há uma maior eficácia a seguir os movimentos destas pessoas que já se sabe que estiveram na Síria e no Iraque. Já não falo dos que estão referenciados pela Turquia ou pelos Estados Unidos ou por outros países e em relação aos quais não se deu atenção”, remata o antigo primeiro-ministro.