A comunidade portuguesa na Beira diz-se preocupada com o clima de insegurança generalizada que pode resultar da falta de alimentos e medicamentos. No entanto, o encontro com o secretário de Estado das Comunidades não deixou os portugueses mais tranquilos.
“Não ficámos mais tranquilos, porque um dos pontos principais que partilhámos com o secretário de Estado foi a falta de segurança que poderemos vir a ter nas próximas semanas. Com a escassez de alimentos, de água potável e de bens essenciais pode criar-se um clima de instabilidade, de saques e de insegurança generalizada. O secretário de Estado disse-nos que, em relação a isso, não pode fazer nada porque Moçambique é um Estado soberano e não se pode impor nada”, conta à Renascença Luís Leonor, um português a residir na Beira.
“Nós entendemos isso perfeitamente, mas também entendemos que as comunidades têm que ser protegidas. Se fosse uma comunidade norte-americana de certeza que as tropas e as equipas de salvação desse país já estariam presentes”, contrapõe.
Luís Leonor é um dos portugueses que se reuniu esta quinta-feira com o secretário de Estado. No encontro com a comunidade portuguesa, José Luís Carneiro ouviu pedidos de segurança e linhas de crédito de apoio.
O pedido foi expresso numa carta assinada por 51 cidadãos portugueses, a maior parte empresários que dizem dar emprego a 800 pessoas.
"Este é um documento não emotivo, mas sim uma exigência que deve ser tomada em conta pelo Governo português", referiu Joaquim Vaz, empresário que falou num encontro mantido esta manhã com o governante.
Entre os principais pedidos está que Portugal indique uma força especial para garantir a proteção dos portugueses na Beira, agora que estão mais vulneráveis numa cidade sem eletricidade, nem outros serviços básicos.
Pediram ainda a criação de uma linha de crédito que os possa apoiar em casos urgentes e no esforço de reconstrução que se segue.
No encontro, a comunidade pediu maior presença do consulado português, que acusou de pouco ou nada ter feito para os ajudar.
Os portugueses disseram não entender porque é que, até agora, os consulados não têm telefone satélite para casos de emergência.
"Não se pode pensar que Portugal tem autonomia para chegar aqui e designar forças especiais para proteger só os portugueses", respondeu o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro.
"Isso depende das autoridades moçambicanas. Moçambique tem liberdade para pedir apoio em áreas especiais", acrescentou, sublinhando que "Portugal é um parceiro que é chamado a cooperar quando necessário".