No meio de múltiplas tempestades é fácil ceder a impulsos e a apelos. Cercados – ou aparentemente cercados – pela incompetência, corrupção ou inépcia é frequente o pé fugir para o extremismo.
Há uns anos pediram-me e fiz uma intervenção sobre como, em tais circunstâncias, se pode permanecer na moderação.
Nesse quadro, os moderados são vistos como fracos e cobardes; e os radicais como fortes e corajosos.
Os primeiros sabem que o radicalismo fácil se paga mais tarde e com juros elevados. Por isso resistem a propor caminhos que levem os países para o abismo, mas, frequentemente, ficam a meio caminho, sem esclarecerem o necessário.
Os segundos dizem o que algumas multidões desejam ouvir, apelam aos instintos mais baixos, instrumentalizam descontentes, desfazem-se em promessas que nunca poderão cumprir. Vale tudo para chegar ao poder, explorando sofrimentos, necessidades ou ignorâncias.
Nas próximas eleições legislativas, este é o quadro em que os eleitores vão votar.
Para mudar o que está mal na saúde, na justiça, na educação ou na segurança estamos a ser inundados, pela extrema-direita e pela extrema-esquerda, com propostas mirabolantes, irrealizáveis e enganadoras. Desde igualar as pensões mais baixas ao salário mínimo nacional até aos cem mil alojamentos adicionais que iriam aparecer da noite para o dia para resolver o drama da habitação dos mais pobres.
Não são utopias nem delírios. São enganos deliberados que um eleitorado carente de liderança e à beira da exaustão, recebe como se de uma poção mágica se tratasse.
Aos moderados – aos partidos que não se reconhecem nos extremos – pedem-se propostas claras, inteligíveis e realistas. E que as saibam comunicar e credibilizar.
Nas atuais circunstâncias exige maior coragem permanecer na moderação do que simplesmente cavalgar os mais variados discursos radicais ao sabor do vento.
Afinal, é mais fácil ser moderado ou radical?