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A estátua de Luís de Camões à entrada do liceu, de máscara colocada, não deixa que se esqueçam as novas regras: professores, funcionários e alunos devem usá-la. Mesmo que a tarefa de comunicar durante horas "com a sensação de que a voz não tem alcance", dizem alguns adolescentes, seja agora um desafio.
À entrada, Renata, Diogo e António, alunos do 11.º ano, cumprimentam-se com os cotovelos e, no meio da azáfama do reencontro, dizem sentir-se "calmos" e "suficientemente responsáveis" para que as regras de distanciamento social e de higiene sejam cumpridas. "As mães é que estão mais preocupadas", diz Diogo, que reduz a sua preocupação a problemas menores: "Quando uso máscara, os óculos ficam embaciados e dificulta-me a visão, mas hei de habituar-me a isto".
Esta segunda-feira regressaram à Escola Secundária de Camões cerca de 400 de 600 alunos do 11.º e 12.º anos que, apesar da pandemia, precisam de se preparar para os exames nacionais. A avaliar pelo alto das fachadas e pelos largos corredores que o arquiteto Miguel Ventura Terra criou há mais de 100 anos, o distanciamento social poderia não ser hoje um problema nestes novos tempos. Aliás, o Liceu Camões chegou a ser um hospital de campanha durante a gripe espanhola que atacou a capital. No entanto, o desafio parece ser agora acrescido tendo em conta que decorrem obras de reabilitação desde o Verão passado.
À Renascença, João Jaime Pires, diretor da escola, fala na dificuldade de readaptar o espaço, com salas improvisadas, tendo em conta que as obras prosseguem e as instalações estão reduzidas a um terço.
"Foi um grande desafio. Os monoblocos são espaços muito pequenos e não garantem o distanciamento entre os alunos. A alternativa para que todos regressassem em segurança foi dedicar o ginásio para os alunos de Desenho e Geometria Descritiva, a biblioteca antiga para as Humanidades e o auditório para as aulas de Filosofia. E temos ainda 21 salas de aula", explica.
Também para evitar a concentração de alunos, o 11.º ano tem aulas de manhã e o 12.º ano à tarde. E, como as salas de aula só têm capacidade para 13 secretárias, as turmas foram divididas ao meio. A ideia, explica João Jaime Pires, é que "os alunos do 12.º ano venham à escola duas vezes por semana e os do 11.º venham no máximo três vezes".
Nos corredores, há um rodopio de funcionárias vestidas com uma bata e com máscara — e, talvez pela responsabilidade acrescida, não largam o álcool gel. Já lá fora, mesmo com a hora de entrada a aproximar-se, a organização é tanta que os alunos parecem ser poucos.
O Liceu Camões tem neste momento três entradas: a central, que dá acesso ao primeiro andar, a toda a galeria; a segunda entrada para o pátio; e a terceira para os monoblocos. Segurança parece, assim, não faltar, mas o mesmo não se pode dizer de professores - numa altura em que ainda decorrem os concursos para substituir docentes que pertencem aos grupos de risco.
“Há oito professores com problemas de saúde que estão neste momento a tentar acompanhar os alunos à distância. Aguardamos ainda que sejam colocados outros professores para acompanharem os alunos presencialmente”, critica o diretor.
A decisão do Governo de que os alunos teriam de voltar às aulas presenciais fez com que o Liceu Camões não tivesse outra alternativa senão "inventar novos espaços". E, enquanto se tentam resolver problemas, a médio prazo esquecem-se questões essenciais: em que moldes vão funcionar os exames para os quais se preparam em contrarrelógio? Por que razão é que Portugal não seguiu o mesmo caminho de países como França e Reino Unido que optaram por cancelar os exames de conclusão do secundário e de acesso ao ensino superior? É uma "teimosia que não se entende" e a falta de resposta sobre o que aí virá também não ajuda.
“O Instituto de Avaliação Educativa tarda em trazer informações sobre a forma como o exame vai decorrer. Se há perguntas de opção, por exemplo. Os alunos, os pais e os professores estão preocupados com a avaliação que, a meu ver, deveria ser formativa e não sumativa. Há aqui uma dupla pressão que não é feliz neste momento, sabendo que outros países na Europa resolveram o problema com muita facilidade e aqui os alunos não estão tranquilos”.