Doze idosos utentes do Centro Social Paroquial dos Pousos, no concelho de Leiria, vão encontrar-se com o Papa Francisco no Vaticano, numa jornada que, para muitos, significa a estreia em viajar de avião ou pernoitar num hotel.
Em janeiro, quando utentes, colaboradores e a direção do Centro Social escreveram a carta ao Papa, sugerindo um encontro em que, conforme a escolha do pontífice, houvesse chá ou vinho, a expectativa de que “houvesse uma resposta 10 ou 11 meses depois, com uma bênção papal, que seria emoldurada numa moldura muito bonita e colocada na entrada da instituição”, admitiu à Lusa a secretária da direção, Alexandra Neves.
No entanto, a surpresa chegou com o convite para que fosse escolhida uma quarta-feira, com a garantia de que, após a audiência geral, o pontífice privará um pouco com o grupo de 12 idosos – 11 dos quais se deslocam em cadeira de rodas - e respetivos cuidadores.
O dia está escolhido, será 15 de junho, com a partida da comitiva a acontecer na segunda-feira, dia 13, e o regresso a Leiria a estar marcado para dia 16.
Alexandra Neves disse à agência Lusa que “o programa está já preparado” e contempla, no dia 14, “de manhã, uma visita de autocarro pelos sítios mais emblemáticos de Roma e, de tarde, uma cerimónia na Basílica de S. Paulo, em português, com a presença de alguns dos benfeitores” que permitem esta deslocação.
No dia seguinte, e depois da audiência papal, onde vão tentar entregar uma caixa de vinho ao Papa, a comitiva dos Pousos vai aproveitar a tarde para visitar o Vaticano e, em particular, a Capela Sistina, num percurso adaptado.
Com muitos idosos a manifestarem vontade de ir a Roma ver o Papa, a seleção obedeceu a alguns critérios, desde logo a validação por parte da equipa médica, mas que passaram pela saúde mental e alguma mobilidade dos utentes. Maria do Céu, de 90 anos, de Fornos de Algodres, mas utente deste lar do concelho de Leiria, é a mais idosa da comitiva.
Os que ficam no Centro Social durante os quatro dias de viagem vão ter as suas fotos abençoadas pelo Papa e direito a uma recordação do Vaticano, assegura Alexandra Neves.
Mas, têm já uma promessa que lhes foi feita. Em 2023, com o Papa em Portugal para a Jornada Mundial da Juventude, a direção do Centro Social vai procurar que, em Lisboa ou em Fátima, os idosos que agora não vão a Roma, possam ver o pontífice nessa ocasião.
Este projeto – que envolve a deslocação de 25 pessoas a Roma, 12 utentes e 13 cuidadores, entre os quais muitos voluntários, nomeadamente membros da direção, e que terão a seu cargo, dia e noite, o tratamento dos idosos – está orçado em cerca de 25 mil euros.
Para já, há três empresas que vão apoiar a viagem, com a direção a esperar que surjam mais. “No limite, os voluntários pagarão a sua viagem e estadia”, admitiu Alexandra Neves, que espera que “esta iniciativa inspire outras instituições a fazer coisas com os seus idosos que estes nunca tiveram possibilidade de fazer ao longo da vida”.
E os idosos querem aproveitar bem a sua deslocação. “Falam muito da parte gastronómica. De comer coisas diferentes. Muitos gelados”, disse, a rir, a dirigente da instituição.
“O Senhor Santo Padre tem certamente uma agenda que é diferente da nossa e que, sem dúvida, é muito angustiante, intensa e preenchida. Mas, quem sabe, talvez nos possa doar um bocadinho da sua vida para nos encontrarmos aí, na sua casa!”, escreveram na carta enviada em janeiro para o Vaticano, acrescentando: “Perdoe novamente a ousadia, mas se o Senhor Santo Padre entender por bem, iríamos ao seu encontro, dentro de uns meses, durante este ano de 2022, e gostávamos mesmo era de ir a sua casa ou ao seu jardim para sermos recebido por si, para que pudesse falar connosco um minutinho e depois nos deixasse a brindar um vinho (alguns de nós ainda gostamos desse sabor) ou um chazinho, com o aroma que, na sua opinião, mais iríamos apreciar”.
“Se houver acolhimento e disponibilidade para o ‘minutinho’ que lhe solicitamos, iríamos um grupo de dez idosos, em cadeiras de rodas, acompanhados pelos nossos cuidadores. De preferência, gostaríamos de o fazer em período de temperaturas mais amenas. O frio atormenta-nos e poderíamos também desfrutar das belas partes do Vaticano”, explicavam, longe de saberem que a resposta viria célere e com sinal positivo.