A Assembleia Geral da ONU condenou o golpe militar de Myanmar (antiga Birmânia) e pediu um embargo de armas contra o país, numa resolução onde mostra ampla oposição à junta militar e exige restauração da transição democrática no país.
A resolução foi o resultado de longas negociações por um denominado Grupo Central, incluindo a União Europeia e muitas nações ocidentais e a Associação de 10 membros do Sudeste Asiático conhecida como ASEAN, que inclui Myanmar.
A resolução não obteve o apoio esmagador que os seus apoiantes desejavam, mas a ação da Assembleia Geral da ONU, embora não seja legalmente vinculativa, reflete a condenação internacional do golpe de fevereiro que tirou o partido de Aung San Suu Kyi do poder, colocando-a na prisão junto de muitos líderes do governo e políticos.
Em meados de maio, uma primeira tentativa de fazer aprovar um texto abortou, tendo os países ocidentais preferido ter tempo para negociar com os membros da ASEAN, para obter a maior adesão possível a um texto de resolução. Na altura, o projeto previa “uma suspensão imediata do fornecimento, da venda ou da transferência direta e indireta de todas as armas, munições e outros equipamentos militares a Myanmar”.
O novo texto, obtido pela agência noticiosa francesa AFP, é mais vago, exigindo que “seja impedido o afluxo de armas” a Myanmar.
O projeto de resolução submetido à apreciação da Assembleia Geral exige também um regresso à democracia em Myanmar, a libertação dos seus dirigentes civis, a aplicação de um plano de cinco pontos aprovado em abril pela ASEAN, que inclui a nomeação de um enviado, e que as Forças Armadas do país “cessem imediatamente toda a violência contra manifestantes pacíficos”.
O texto, copatrocinado por mais de 50 Estados, solicita ainda o acordo da junta para uma visita ao terreno da enviada da ONU Christine Schraner Burgener e acesso humanitário sem entraves a todo o país.
Homenagem em dia de aniversário de Suu Kyi
Milhares de birmaneses saíram à rua para protestar, com flores, contra a junta militar de Myanmar (antiga Birmânia), como tributo à líder deposta, Aung San Suu Kyi, que hoje faz 76 anos.
Suu Kyi foi retirada do poder num golpe de Estado a 1 de fevereiro, com os militares a justificarem a revolta com uma alegada fraude nas eleições legislativas de novembro, validadas pela comunidade internacional e nas quais o partido de Suu Kyi obteve uma maioria esmagadora.
As flores em memória de Suu Kyi não se limitaram aos protestos, mas fazem agora parte do cenário diário nas ruas de um país onde a vencedora do Prémio Nobel da Paz goza de uma popularidade que parece ter crescido desde que foi detida pela junta.
Na segunda-feira, sentou-se no banco dos réus no primeiro dia do julgamento em que enfrenta cinco acusações, incluindo incitação à agitação pública, violação das regras da covid-19 e importação ilegal de 'walkie-talkies'.
Mais de 860 civis foram mortos em Myanmar desde a tomada do poder total pelos militares a 1 de fevereiro, segundo a ONU e a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos (AAPP).