Há 930 mil anos os ancestrais humanos quase entraram em extinção. Um estudo chinês calcula que o número de indivíduos da população terrestre chegou a menos de 1.300 e o motivo pode ter sido as alterações climáticas.
O estudo baseado na análise do DNA de 3.154 pessoas vivas chegou a essa conclusão após usar técnicas de "relógio molecular". Este mecanismo permite estimar a idade das variações genéticas numa população tendo por base a variabilidade genética da população moderna.
O trabalho foi liderado por Wangjie Hu, cientista chinês da Escola de Medicina Icahn, em colaboração com o Hospital Mount Sinai de Nova Iorque.
De acordo com o artigo publicado na revista Science, esta diminuição da população sofrida durante o período Pleistoceno durou cerca de 120 mil anos.
"Esse afunilamento durou cerca de 117 mil anos, e cerca de 98,7% dos ancestrais humanos foram perdidos no início deste período, ameaçando, portanto, nossos ancestrais de extinção", escrevem os cientistas liderados por Hu. "O tamanho efetivo da população durante o afunilamento foi de 1.280 indivíduos férteis, algo comparado à população de mamíferos ameaçados hoje em dia."
O estudo chinês não teve como objetivo entender o motivo da diminuição da população ancestral, mas os autores verificaram que o evento coincide com alguns fatores importantes na história evolutiva dos primatas.
A hipótese mais plausível para o ocorrido é que os hominídeos em questão tenham enfrentado um período de alterações climáticas para as quais não estavam bem preparados. O grupo voltou a crescer por volta de 813 mil anos atrás, na época em que os primeiros primatas começaram a dominar o fogo.
Hu especula que o afunilamento pode ter provocado o isolamento dessa pequena população, de outras que já se haviam espalhado pelo mundo, como o Homo Erectus, que já existia nessa mesma época na Ásia.
Desse ancestral comum que quase se extinguiu nasceram espécies como o homem de Neandertal, os Denisovanos e o Homo sapiens.
O local onde essa população estava a viver ainda é incerto.
Os paleoantropólogos Nick Ashton e Chris Stringer, do Museu Britânico e do Museu de História Natural de Londres, afirmam que há questões importantes a serem respondidas ainda.
"Ainda não está claro se o último ancestral comum entre essas espécies viveu na Europa, na Ásia ou na África", escreve a dupla ocidental.
Os cientistas britânicos pontuam que o registo fóssil dessa época, por ser escasso, é confuso. "De qualquer forma, o estudo provocativo de Hu e seus coautores põe em foco a vulnerabilidade das populações humanas ancestrais, com a implicação de que nossa linhagem evolutiva quase foi erradicada", escreve a dupla.