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A cidade de Mariupol, onde viviam cerca de 450 mil habitantes, está cercada pelas tropas russas, e quem ali permanece descreve um cenário de destruição brutal, com bombardeamentos constantes, casas a arder, cadáveres nas ruas, a que se soma a falta de comida e de água.
Na quarta-feira, as autoridades ucranianas acusaram as forças russas de terem bombardeado o hospital. As comunicações estão também muito difíceis. Acresce a tudo isto a dificuldade em se conseguir ativar corredores humanitários que permitam a saída efetiva das populações civis.
“Mariupol é como o Armagedão. É o inferno. Por favor, digam ao mundo: é uma tragédia. São só tiros aleatórios. A cidade inteira é como um grande campo de batalha. As bombas caem por todo o lado. Em todo o lado ouvem-se disparos. Mariupol é uma cidade rodeada pelo exército russo. As pessoas estão sentadas nas suas caves…”, conta o padre Pavlo à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
O sacerdote da comunidade dos padres Paulistas refere que ali a insegurança é constante e mal se consegue descansar.
“Mal conseguíamos dormir. Ninguém conseguia dormir. Todo o nosso corpo doía devido aos ataques bombistas. Eu tinha montado um abrigo num canto - era onde eu vivia, por assim dizer. Estávamos todos assustados…”, detalha.
Também os alimentos tiveram de ser racionados para lá do que seria razoável. O sacerdote diz que durante dois dias só teve uma lata de comida.
“Quando passamos por algo assim, não temos fome. Podemos sobreviver sem comida, mas não sem água. As pessoas deixaram as suas casas à procura de água e, como consequência, muitas delas morreram de forma brutal…”, descreve.
Nestas declarações à AIS, o padre Pavlo alerta que “andar na rua em Mariupol equivale a suicídio”, por isso, pediram aos fiéis que ficassem em casa e que não celebrariam a Missa, porque era demasiado perigoso.
Muitos já abandonaram a cidade
O padre Pavlo conta que no passado sábado, formando um comboio com cerca de uma centena de automóveis, alguns dos habitantes conseguiram sair da cidade, mas para isso foi necessário passar por vários postos de controlo e até que foram barrados por separatistas da chamada República de Donetsk.
“Não nos foi permitido ir mais longe, mas deixaram-nos procurar refúgio numa pequena aldeia. Depois disso, houve mais desvios. Tivemos connosco mulheres grávidas e crianças. Não consigo esquecer a imagem de uma mulher grávida, de joelhos, a implorar aos separatistas para nos deixarem passar, mas eles recusaram”, relata o sacerdote à AIS.
São histórias dramáticas que ficarão para sempre retidas na memória. E jamais será possível esquecer a tragédia e a violência.
Está “tudo destruído por bombas, e por vezes temos de conduzir à volta dos cadáveres que encontramos pelo caminho. Esta tragédia brada aos Céus!”, lamenta.
O sacerdote está muito preocupado com as pessoas que permanecem na cidade e pede orações por todo o povo ucraniano.