Eduardo Marçal Grilo considera que a pandemia da Covid-19 obriga a tomar medidas no sentido de mitigar o acentuar das desigualdades. Este contexto pode ser o ideal para dar mais autonomia às escolas.
Em entrevista à Renascença, esta segunda-feira, no programa As Três da Manhã, o antigo ministro da Educação e autor de vários livros na área sublinhou que "as desigualdades vão agravar-se e muito".
"É preciso tomar medidas e é preciso encontrar programas de recuperação e apoio aos mais desfavorecidos. Foi um ano atípico. Nada substitui o ensino presencial, mas é preciso que esta expesriência dos últimos três meses seja encarada em duas óticas: fazer uma avaliação séria do que se passou ouvindo professores, estudantes e famílias, e encontrar imediatamente a forma de fazer a recuperação dos estudantes. Recuperação que não se faz em dois ou três meses. Esta pandemia deixa um rasto mais vasto", alertou.
Na opinião de Marçal Grilo, as medidas tomam-se de aluno em aluno e de escola a escola, "não com uma medida global". Nesse sentido, importa dar poder de decisão a quem trabalha mais próximo dos alunos, sustenta: "Esta é talvez uma das grandes oportunidades que se tem para aumentar e reforçar a autonomia das escolas."
Portanto, "é necessário que o ministério da Educação diga rapidamente quais são as três ou quatro soluções que prevê" para o pós-pandemia, numa altura de "grande incerteza". Certo, no entender do antigo ministro, é que Portugal se vê, mais uma vez, "a correr atrás do prejuízo".
"Rankings" devem ser recurso, não finalidade
Os "rankings" das escolas saíram este fim de semana, com o Colégio de Nossa Senhora do Rosário, no Porto, no topo, pelo sexto ano consecutivo. A notícia é outra: pela primeira vez, não há qualquer escola pública entre as 30 escolas com melhores médias nos exames do Ensino Secundário.
Para Marçal Grilo, os "rankings" "dizem muito e dizem pouco", uma vez que "é preciso saber lê-los" e perceber o que eles nos dizem.
"O deste ano não traz nada de novo. O que os 'rankings' mostram são as enormes desigualdades que existem no sistema, que marcam muito a sociedade portuguesa e que a pandemia veio agravar", frisa.
Na opinião do antigo ministro da Educação, os "rankings" ajudam, sobretudo, quem tem responsabilidade nas escolas a perceber como é que elas estão a funcionar, quais são o tipo de alunos que têm, porque é que os resultados são bons ou maus. Porém, há que ter cuidado.
"Os 'rankings' são um meio não um objetivo. Quando se tornam um objetivo, é perigosíssimo, porque se começa a fazer um projeto educativo em função do resultado do 'ranking'", alerta Eduardo Marçal Grilo.