O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), António Nunes, considera que não faz sentido que os bombeiros não tenham sido ouvidos, em algum momento, no processo de reorganização das urgências.
“Não fomos consultados sobre nenhuma reforma das urgências. Somos nós que fazemos 90% das urgências, em alguns sítios 100%”, diz o presidente da LBP à Renascença.
Em 2022, “mais de 90%” dos serviços feitos através do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) foram realizados por corporações de bombeiros, revelou Manuel Pizarro, ministro da Saúde, no domingo, durante o encerramento do Congresso da Liga dos Bombeiros.
De acordo com o relatório de atividade dos meios de emergência médica do INEM, referente a 2021, o SIEM conta com 671 meios (entre ambulâncias, helicópteros, motociclos) em funcionamento. Deste total, cerca de 60 são operados pelo INEM, mas a maior fatia (mais de 400) são serviços contratualizados com corporações de bombeiros.
“Como é que alguém que não tem ambulâncias encerra uma urgência hospitalar sem ouvir os bombeiros? É preciso saber se há capacidade de transporte dos doentes que batem lá à porta. E é preciso saber se o número de ambulâncias disponíveis chega”, atira António Nunes.
No processo de reorganização das urgências, António Nunes imputa responsabilidades, em particular, ao INEM. “Julga que é dono dos bombeiros. Não tem a humildade de dizer que 90% dos serviços não são feitos por eles. Eles coordenam os serviços. Tem de se perguntar aos bombeiros se têm capacidade para executar um programa de transporte de doentes inter-hospitalares e nunca o fizeram.”
Loures? “Contrassenso”
Na segunda-feira, a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) apresentou o plano de reorganização das urgências pediátricas para a região de Lisboa e Vale do Tejo. Dez unidades vão continuar a funcionar em permanência, mas há mudanças em quatro.
A urgência pediátrica do Hospital de Loures vai fechar atividade em todos os fins de semana, enquanto a do Centro Hospitalar de Setúbal vai encerrar quinzenalmente. No Hospital S. Francisco Xavier, assim como no Centro Hospitalar do Oeste – Unidade de Torres Vedras, o mesmo serviço irá funcionar todos os dias, mas apenas em regime diurno: das 9h00 às 21h00.
O encerramento da urgência pediátrica de Loures é um “contrassenso” ao nível logístico, diz António Nunes. “Se o segundo maior hospital [da zona de Lisboa] vai perder a valência de pediatria, isto quer dizer que durante a noite, quer sejam 10, 15 ou 20 serviços [de transporte], vão ter de ir para Santa Maria.”
Os diferentes responsáveis “esqueceram-se de perguntar em Loures se existe capacidade dos bombeiros de fazerem dez, doze, ou vinte transportes durante a noite, para transportar as crianças que chegam à urgência do hospital de Loures para virem para o hospital de Lisboa. O que quer dizer que têm que aumentar o número de ambulâncias”, diz ainda.
Segundo o último relatório de atividade dos meios de emergência médica do INEM, o SIEM conta com quatro Ambulâncias de Transporte Inter-Hospitalar Pediátrico (TIP).
A Renascença questionou o INEM sobre a que unidades hospitalares estão alocadas estas viaturas, mas até ao momento não obteve resposta.
Novos acordos?
Uma das novidades saídas da moção estratégica do recente Congresso da Liga dos Bombeiros foi a “denuncia o acordo de cooperação com o INEM”.
O aviso prévio de 180 dias já foi dado, segundo António Nunes, o que, na teoria, fará com que a 28 de novembro a relação entre as cooperações de bombeiros e o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) entre em novos moldes.
Até lá, existirão “conversações”, admite o presidente da Liga dos Bombeiros.
A Renascença questionou o INEM sobre as mudanças e a reorganização dos serviços de urgências, mas até à hora de publicação desta notícia não obteve resposta.