O lusodescendente que evitou mais agressões sobre um polícia francês, no âmbito dos protestos dos “coletes amarelos”, afirmou esta quarta-feira que está do lado dos manifestantes mas que recusa violência gratuita.
Miguel Henriques Paixão tornou-se numa estrela das redes sociais depois de ter sido filmado a impedir manifestantes de agredirem um polícia caído no chão durante as manifestações de sábado.
"Eu vi que tinha havido uma carga da polícia e vi vários coletes amarelos caídos, fui ajudá-los”, mas depois vi que “um polícia estava a ser isolado, tinha caído no chão e começaram a pontapeá-lo”, recorda em entrevista à Lusa.
“Aí, eu nem pensei, disse a toda a gente à minha volta para parar de lhe bater e afastei-me com ele em segurança."
O lusodescendente nascido em França e que vive nos arredores de Paris foi identificado depois de o Sindicato da Polícia ter feito um apelo na televisão para encontrar o manifestante que tinha ajudado o agente em apuros em pleno Arco do Triunfo.
“Colete amarelo” desde “o início”, Miguel Henriques Paixão diz estar "farto" da atitude dos políticos franceses, especialmente do Presidente Macron e tem sido isso que o tem levado a ir para as ruas.
“Estamos fartos de ser governados por pessoas que vivem às nossas custas, ganham bons salários e não fazem nada por nós. O Macron é pior porque olha para nós de alto e é demasiado arrogante. É como se ele fosse o rei e nós os seus súbditos", afirmou, recusando que o espírito do movimento esteja deturpado, com a presença de infiltrados radicais.
Exemplo disso foi o facto de Miguel Henriques Paixão ter estado com máscara e óculos nas ações de protesto – uma proteção a que são associados os militantes de extrema-direita e extrema-esquerda: "Eu fui para me manifestar nos Campos Elísios, mas lá não podíamos ter nem óculos nem máscara. Tínhamos medo de levar com gás, então preferimos ficar fora, no Arco do Triunfo. Diz-se que toda a gente que tem máscara é porque vem arranjar problemas, mas não. Nós trazemos as máscaras para nos protegermos".
Depois de ter sido identificado na televisão France 2 como o colete amarelo que ajudou o polícia, Miguel Henriques Paixão tem sido acusado de ser um infiltrado das forças da ordem e tem sido ameaçado nas redes sociais.
“Enerva-me que me digam que eu estava a colaborar com a polícia. Eu trabalho numa fábrica, sou um colete amarelo normal. No Facebook, muitas pessoas felicitam-me, mas há outras que dizem que estou com a polícia por ter feito o que fiz", disse o filho de emigrantes portugueses, com dupla nacionalidade.
Sobre a manifestação no próximo sábado, Miguel Henriques Paixão hesita.
“Eu estava a pensar ir, mas tenho a impressão de que o movimento está a dispersar-se e tenho medo que aconteçam coisas mais graves desta vez”, concluiu o lusodescendente.