A diretora de projetos da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), Regina Lynch, diz que “a Igreja na Síria está em choque com a catástrofe”.
Após uma primeira ronda de contactos com paróquias, dioceses e comunidades religiosas, a responsável assinala que “mesmo tão longe como Beirute as pessoas foram para as ruas, preocupadas que outra explosão estivesse prestes a perturbar o seu país”, referindo-se à brutal explosão acidental que destruiu o porto e alguns bairros da capital libanesa em agosto de 2020.
A Fundação pontifícia diz que está a avaliar continuamente a situação, recolhendo o máximo de informação possível junto dos seus parceiros no terreno para aferir das necessidades imediatas da Igreja local, para que esta possa cumprir com a sua missão de ajuda de emergência a estas populações.
“O apoio alimentar através de cantinas paroquiais, ajuda aos idosos e auxílio médico, são projetos da Fundação AIS que ganham agora, neste contexto de desastre que se vive na Síria uma importância ainda maior”, indica em comunicado.
Apelo à comunidade internacional
O abalo sísmico que foi sentido a muitos quilómetros de distância causou medo em muitas pessoas. Foi o que aconteceu com a irmã Maria Lúcia Ferreira, religiosa portuguesa, que vive em Qara, no Mosteiro de São Tiago Mutilado, relativamente perto da fronteira com o Líbano.
“Acordámos com o sismo às 4h20 horas da manhã. Eu apenas senti durante alguns segundos, mas comecei logo a rezar…”, descreveu em declarações à AIS.
Segundo a religiosa, o sismo teria sido sentido principalmente “nas cidades de Alepo, Idlib, Lattakia e Hamã”. “Também no sul, em Tartous, mas aí foi coisa pequena, assim como nós sentimos aqui. Mas lá sim, há muitos mortos e há muitos feridos…”
Mesmo com informações ainda muito imprecisas, e longe de ter ainda sequer uma ideia da real dimensão da catástrofe, a irmã portuguesa mostrava-se muito apreensiva. Principalmente por causa do mau tempo que se faz sentir em grande parte do território da Síria.
“Há três, quatro dias de vento forte e muito frio. As pessoas devem estar bastante abatidas”, disse a religiosa.
Já o arcebispo de Homs, D. Jean Abdo Arbach, fala de pessoas em “absoluto desespero” e a “vaguear pelas ruas”, em especial nas cidades e regiões mais afetadas, como é o caso de Alepo, Idlib, Lattakia, Hamã ou Tartous, e lança um apelo à comunidade internacional para ajudar a Síria.
“Esperemos que o terramoto abale e abra o coração da comunidade internacional e de todos os líderes mundiais, para que ajudem a Síria e não se esqueçam das pessoas que sofrem”, disse o arcebispo à AIS, implorando “ajuda urgente” pois haverá milhares de pessoas que ficaram em situação sem-abrigo e que têm agora de enfrentar o frio rigoroso do Inverno que se faz sentir nesta altura do ano na Síria.
Sismo agrava situação já difícil
O sismo veio complicar ainda mais a já difícil situação da Síria, que vive tempos muito duros, com falhas constantes no fornecimento de eletricidade e de combustíveis, e que tem agravado, e muito, as condições de sobrevivência das populações.
A situação é tão grave, principalmente ao nível energético, que, segundo a irmã Maria Lúcia, as escolas passaram a estar encerradas mais um dia por semana pois falta o “mazout”, o óleo usado para o aquecimento das casas e sem isso não é possível receber os alunos, especialmente os mais pequenos.
Dando o exemplo da região de Qara, onde vivem as Monjas de Unidade de Antioquia, a religiosa conta que, agora, “só há eletricidade uma hora por dia”, mas que houve dias “sem nenhuma eletricidade”.
“A nível energético é que as coisas estão realmente a ficar bastante complicadas. É o combustível para cozinhar, a ligação à internet, o telefone, a rede telefónica… tudo o que pede alguma energia está a ficar cada vez mais fraco. Os transportes estão caríssimos, as deslocações caríssimas, por causa da falta de gasolina e da [sua] má qualidade, assim como os preços altíssimos da comida, de tudo o que é roupa, sapatos…”, descreve a religiosa.