O Papa Francisco quer uma mudança de paradigma no ensino universitário católico.
As palavras do Papa no encontro que manteve em Outubro com estudantes e docentes universitários, em Bolonha, foram recordadas esta segunda-feira pelo cardeal Giuseppe Versaldi na conferência de imprensa em que foi apresentada a nova constituição apostólica sobre o ensino superior nas instituições da Igreja.
“Temos de nos dedicar com paixão à educação” para encontrar “o melhor de cada um”, para “bem de todos”.
O documento intitula-se “Veritatis Gaudium”, ou em português, A Alegria da Verdade, e a data de publicação é de 8 de Dezembro de 2017, dia em que se assinalaram os 52 anos do fim do Concílio Vaticano II.
Citando vários documentos publicados pelos seus antecessores, desde essa altura, Francisco diz que “chegou o momento” de se avançar com a renovação dos estudos eclesiásticos no contexto da “nova etapa da missão da Igreja”, que só assim será uma Igreja “em saída”, respondendo aos desafios da actualidade.
“Não vivemos apenas uma época de mudanças, mas uma verdadeira e própria mudança de época”, caracterizada por uma “crise antropológica e socio-ambiental global”, escreve o Papa, para quem é preciso “mudar o modelo de desenvolvimento” e “redefinir o que é o “progresso”. Mas, para isso, é necessário que haja “uma corajosa revolução cultural”. E é a este compromisso que são chamadas as universidades católicas, cujo contributo de “fermento, sal e luz do Evangelho”, o Papa não tem dúvidas, ajudará a “compreender melhor a vida, o mundo, os homens”.
Em coerência com a que tem sido a linha de pensamento das suas encíclicas e exortações apostólicas, Francisco retoma aqui, por exemplo, as preocupações ecológicas da Laudato Si para apelar a uma “cultura cristãmente inspirada”, que ajude a promover “o diálogo sem reservas”, e permita a “experiência comunitária” e a “autêntica cultura do encontro”.
O Papa fala ainda da importância da “interdisciplinaridade” e do “trabalho em rede” entre as várias instituições de ensino da Igreja “em todas as partes do mundo”, porque isso permitirá criar “sinergias” com outras instituições académicas e tradições culturais e religiosas, dando vida a “centros especializados de investigação que aprofundem o diálogo com os diferentes campos científicos”, onde se estudem os problemas que hoje afectam a humanidade e se proponham “pistas oportunas e realistas de resolução”.
“Esse será um serviço qualificado ao Povo de Deus” e à Igreja, acrescenta Francisco.
Convidando a “superar o divórcio entre teologia e pastoral, entre fé e vida”, Francisco cita diversas vezes os seus antecessores a propósito do diálogo entre a fé e a razão e da necessidade de “inculturação” da proposta católica. A história da Igreja mostra que o cristianismo “não tem um modelo cultural único”, mas tem sabido assumir “o rosto das diversas culturas e dos vários povos” onde foi acolhido, escreve o Papa, lembrando que esta é uma “tarefa exigente” também para a teologia.
“É um grande desafio cultural, espiritual e educativo que implicará longos processos de regeneração também para as Universidades e as Faculdades eclesiásticas”, acrescenta o Papa no documento divulgado esta segunda-feira.
Segundo os dados divulgados durante a conferência de imprensa de apresentação da “Alegria da Verdade” existem em todo o mundo 1.081 instituições de ensino superior ligadas à Igreja, entre as quais 289 são faculdades (de teologia, filosofia, direito canónicos e outros cursos), e 792 são institutos, frequentados por 64.500 estudantes, e com mais de 12 mil docentes.