Manuais digitais. Professores e escolas aprovam, mas pedem novos equipamentos
02-08-2017 - 14:55

Além de serem poucos, “os computadores das escolas públicas estão obsoletos”.

Professores e escolas consideram positivo o recurso a manuais escolares digitais, mas alertam que é necessário dotar as escolas com as ferramentas necessárias, uma vez que o equipamento tecnológico existente está obsoleto.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, promulgou, na terça-feira um diploma da autoria do Partido Ecologista Os Verdes (PEV), que visa fomentar a desmaterialização dos manuais escolares, abandonando progressivamente os materiais em papel.

“Esta medida é muito bem-vinda” e “será “muito bem acolhida pelas escolas”, a questão “é como se vai implementar este processo”, disse à agência Lusa a presidente da Associação Nacional de Professores, Paula Carqueja.

Paula Carqueja observou que “há muito equipamento tecnológico nas escolas, mas que está obsoleto”.

Esta posição é partilhada pelo presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, que também considera a “medida positiva”, mas defende que “é preciso haver um investimento nas novas tecnologias”.

“Já há manuais digitais desde 2013, mas o que não há nas escolas é computadores e ‘tablets’ suficientes para serem usados” pelos alunos, disse Filinto Lima à Lusa.

Além de serem poucos, “os computadores das escolas públicas estão obsoletos”, adiantou, defendendo que, antes de “a medida ser universalizada” é preciso dotar as escolas com estas ferramentas.

Para Filinto Lima, devia ser criado um “programa tecnológico de educação” semelhante ao que existiu há “alguns anos” e “dotou as escolas de bons computadores”.

“Não podemos começar a construir a casa pelo telhado, tem de ser pelos alicerces, que é dotar as escolas de material para que possam ter acesso posteriormente aos manuais digitais”, disse Filinto Lima, sublinhando que, “sem isso, não vale a pena dar esse passo, que é um passo de futuro”.

Paula Carqueja alertou também para o facto de o acesso à internet não ser uniforme em todo o país, afirmando que há regiões do interior que nem têm rede.

“Quando falamos da desmaterialização e da utilização dos materiais digitais é preciso atender que há locais onde a internet é um bocadinho escassa e a ligação também”, advertiu.

Outras questões apontadas por Paula Carqueja prendem—se com “quem vai equipar as escolas”, que ferramentas serão utilizadas (‘tablet’, ‘ipad’ ou computador) e como.

Deve ser a escola a emprestar o meio eletrónico, que “a criança só utilizará na sala de aula”, defendeu a presidente da Associação Nacional de Professores, advertindo que este encargo não pode ser pedido aos pais.

Para Filinto Lima, a aposta na tecnologia tem de ser feita pelo Estado e deve ser considerada uma prioridade, para que a escola possa acompanhar a evolução da sociedade.

Se todos os setores “já estão a trabalhar com novas tecnologias, a escola não pode ficar para trás”, defendeu.

Para Paula Carqueja, a medida exige também uma formação contínua dos professores para que possam acompanhar a permanente atualização dos meios tecnológicos.

Outros pontos positivos apontados por Paula Carqueja e Filinto Lima são a diminuição dos gastos das famílias com os manuais escolares e as melhorias para a saúde das crianças, ao aliviar o peso que transportam nas mochilas.

“O avanço para o digital é importante, tendo em conta o peso das mochilas, porque iria diminuir drasticamente os quilos de livros que levam para a escola”, sublinhou Filinto Lima.

O diploma, que foi aprovado por maioria a 07 de julho, apenas com abstenção do CDS-PP, assenta em três pontos: poupança de recursos naturais, facilitar a gratuitidade dos manuais a todo o ensino básico e secundário e aliviar os estudantes dos pesos que transportam diariamente para a escola.