Investigadores produzem suportes cerâmicos que permitem regeneração óssea
30-06-2022 - 15:00
 • Rosário Silva

Levado a cabo pelo Instituto Politécnico de Setúbal, o projeto BioScaff desenvolveu uma metodologia de fabrico por impressão 3D e pode vir a integrar a linha de produção de uma empresa portuguesa especializada em dispositivos médicos.

Uma equipa de investigadores do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) desenvolveu um método alternativo de produção de suportes tridimensionais (scaffolds) cerâmicos para regeneração óssea, que poderá vir a integrar a linha de produção da empresa Bioceramed, parceira do projeto, especializada no desenvolvimento, fabricação e venda de dispositivos médicos.

O projeto de investigação BioScaff, assim se denomina, começou em março de 2021 e ficou concluído recentemente. Foi levado a cabo pelo CDP2T - Centro de Desenvolvimento de Produto e Transferência de Tecnologia do IPS.

O centro “propôs-se avaliar a utilização da impressão 3D como método de fabrico de scaffolds cerâmicos para a substituição óssea, tendo verificado a viabilidade de duas metodologias distintas: por impressão direta com recurso a tecnologia SLA; e por impressão indireta através do fabrico de moldes e posterior infiltração”, explica a nota do IPS, enviada à Renascença.

Segundo o investigador responsável pelo projeto, Ricardo Batista, concluiu-se que “a impressão indireta é uma metodologia mais limpa e económica”, referindo as vantagens deste modo de fabrico face às metodologias de produção convencionais.

“Os scaffolds produzidos podem ser facilmente personalizados, em termos de design e de propriedades mecânicas. O produto final apresenta a mesma composição do que quando obtido por tecnologias convencionais, pelo que não necessita de ser novamente certificado, e o custo acrescido dos equipamentos de impressão é cada vez menor, pelo que não terá impacto significativo no custo final do produto”, indica o investigador.

Afinal, o que são os scalffolds?

São suportes tridimensionais cerâmicos, feitos de material não tóxico e biocompatível, que excluem a necessidade de um enxerto quando as propriedades de regeneração do osso são afetadas, no caso de uma fratura grave, por exemplo.

“Na prática clínica são utilizados pelo cirurgião para a reparação de grandes defeitos ósseos. Por serem compostos por materiais cerâmicos, de composição muito semelhante ao osso, promovem a sua rápida regeneração e respetiva recuperação do doente”, adianta o professor do Politécnico de Setúbal.

De estrutura “porosa para suporte à regeneração de tecidos, através dos orifícios totalmente interconectados”, o scaffold permite “o crescimento celular e a produção de matriz extracelular, garantindo a oxigenação e nutrição do tecido”, acrescenta.

No caso do osso, descreve Ricardo Baptista, “o scaffold deve possuir ainda capacidade de suportar esforços mecânicos e ser biocompatível e reabsorvível, de forma a ser gradualmente substituído por tecido saudável”.

O projeto BioScaff, suportado pelo IPS por concurso interno de financiamento à investigação aplicada, decorreu em colaboração com a Bioceramed, a empresa nacional especializada na produção de dispositivos médicos.

“Os principais desafios identificados pela empresa prendiam-se com a necessidade de certificação dos produtos médicos oferecidos”, lembra o investigador, sublinhando que com este projeto “foi possível verificar que as características dos scaffolds produzidos por impressão 3D são idênticas às que são obtidas por processos convencionais, com a vantagem que o seu design pode ser personalizado”.

Desta forma, conclui, “não será necessária a recertificação do produto”.