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A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Menores na Igreja Católica Portuguesa traçou um perfil das vítimas e dos abusadores, no relatório apresentado esta segunda-feira, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
De acordo com a socióloga Ana Nunes de Almeida, a maioria das vítimas (58,6%) vivia com os pais, um quarto das vítimas em instituições e 7,8% vivia em "arranjos monoparentais, sobretudo maternos".
Ana Nunes de Almeida referiu ainda que a maior parte dos abusos ocorre entre os 10 e os 14 anos de idade, com média nos 11,2 anos, que é "ligeiramente inferior nas raparigas e superior nos rapazes".
Esta especialista especificou que 57,2% das vítimas são do sexo masculino e 42,3% mulheres. Ana Nunes de Almeira destaca que, em Portugal, o número de vítimas mulheres é "incomparavelmente superior" a outros países.
Olhando para quando e em que pontos do país é que os abusos aconteceram, a comissão concluiu que o pico de abusos decorreu nas décadas de 60, 70 e 80, um pouco por todo o território nacional, com destaque para Lisboa, Porto, Coimbra, Santarém e ilhas.
A socióloga Ana Nunes de Almeida notou que, nesta matéria, "o 25 de abril não teve impacto nenhum".
A idade atual, em média, das vítimas é de 52,4 anos, dos quais 88% continuam a viver em Portugal. 53% das vítimas são católicas, dos quais 25,8% mantém-se praticantes.
"Por vários motivos, temos uma amostra de uma franja de população qualificada. 32,4% são licenciados", aponta.
Sobre os abusos, os especialistas referem que mais de metade das vítimas (57,2%) foi abusada mais do que uma vez e para 27,5% os abusos prolongaram-se por mais de um ano. Os rapazes foram vítimas de abusos mais invasivos - sexo anal, manipulação de órgãos sexuais e masturbação -, enquanto que os abusos perante as raparigas traduziram-se por insinuação.
Após os abusos, mais de metade das vítimas (52%) só falaram sobre o sucedido, em média, 10 anos depois. Os homens relatam sobretudo ao cônjuge e aos amigos, as mulheres contam à família e aos ascendentes. Cerca de 40% das vítimas (43%) falou pela primeira vez sobre abusos de que foi alvo à comissão, 77% nunca apresentou queixa à Igreja e somente 4% avançaram com uma queixa judicial.
Quanto aos abusadores, a esmagadora maioria (97%) é do sexo masculino, 77% são sacerdotes e quase metade (47%) são relações próximas da criança.
Vítima no centro do estudo
Na apresentação do documento, a assistente social, formada em Terapia Familiar, Filipa Tavares, explicou que a metodologia do estudo, em que se procurou uma visão quantitativa e qualitativa, colocou no centro a vítima.
“Decidimos colocar no centro do estudo a vítima, dar-lhe voz e tornando-a protagonista que interessava aprofundar e interpretar. Não foi uma análise institucional ou a experiência dos abusadores”, destacou.
Através do inquérito disponibilizado online foram recebidas 564 respostas, tendo sido validadas 512.
Já a linha telefónica recebeu 355 chamadas e 102 resultaram em preenchimentos de inquérito.
Neste contexto, foram realizadas 34 entrevistas pessoais a vítimas diretas, e outras 17 a testemunhas que souberam de casos.
Nesta intervenção, Filipa Tavares, adiantou que 51 pessoas pediram para ser recebidos pela Comissão Independente.
“Arquivos históricos da Igreja foram abertos a um grupo de investigadores pela primeira vez”, destacou, acrescentando tratar-se de trabalho “pioneiro” que se prolongou durante três meses.
Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.
Telefone: 217 543 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: