A Feira do Livro de Lisboa regressa às suas datas originais, de 25 de maio a 11 de junho, no Parque Eduardo VII. Este ano, devido às obras do palco que vai acolher a Jornada Mundial da Juventude, em agosto, não é possível crescer em dimensão a feira.
A explicação foi dada esta terça-feira na conferência de imprensa pelo presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL). Pedro Sobral esclareceu à Renascença que “desde muito cedo”, a APEL começou “a trabalhar com a Câmara de Lisboa para perceber a logística” e, embora haja “mais pedidos, de mais editores, não foi possível crescer”.
Contudo, Pedro Sobral desvaloriza a questão. “Tínhamos pedidos para 379 pavilhões, ficamos com os 340 do ano passado. Isso não fere em nada” a organização, explica o responsável da APEL que indica que vão estar representadas “980 chancelas”.
O responsável que fala em “melhorias nos passadiços, nos pavilhões, em alguns corredores e outros espaços” da feira, destacou o “impacto internacional” que a feira tem. “É das poucas feiras ao ar livre, destinada ao leitor”, diz Sobral que lembra que esta não é, ao contrário de outras feiras do livro a nível internacional, um evento para profissionais.
“Temos o interesse de associações de outros países. Como é que num país com tão baixos índices de leitura se faz uma operação desta complexidade? Há muita curiosidade como é que uma feira desta natureza consegue atrair tanta gente e trazer mais gente para a leitura e para o livro”, refere o presidente da APEL.
Há neste momento uma alteração nos hábitos de leitura em Portugal
Pedro Sobral indica que desde 2021 “o mercado do livro tem crescido”. Nesta antecâmara para a edição número 93 da Feira do Livro que a APEL organiza em conjunto com a autarquia de Lisboa, o responsável dos editores e livreiros confirma um movimento de “recuperação” nas vendas.
Depois ter sofrido quebras com a pandemia e os confinamentos, o mercado livreiro cresceu em 2022, explica Pedro Sobral que confirma que já este ano, nos primeiros 3 meses do ano, está a “crescer 12%”.
Preferindo um olhar “otimista”, o presidente da APEL explica que “além do crescimento do mercado, há, neste momento uma alteração dos hábitos de leitura em Portugal”. Embora reconheça que “partimos de uma base muito baixa”, em que somos o “segundo país com os piores índices de leitura da União Europeia”, Pedro Sobral explica que há hoje “um crescente interesse pela compra de livros para leitura própria”.
“Portugal sempre viveu muito da compra de livros para oferta. Mais do que um produto cultural, o livro era de facto uma prenda. Hoje o que notamos é que as pessoas estão a comprar para ler”, explica o presidente da APEL
A impulsionar o aumento da venda de livros estão novos fenómenos. “Há uma conjugação muito grande e intensa nas redes sociais à volta do livro e da leitura”, diz Sobral que acredita num “movimento de novos leitores” com idades entre os 18 e os 30 anos que poderá ter reflexo na Feira do Livro de Lisboa.
Cheque Livro pode estar mais perto
Perante este otimismo, Pedro Sobral é questionado pela Renascença sobre a inflação e as dificuldades financeiras dos portugueses e sobre a forma como isso pode ou não afetar as vendas na Feira do Livro de Lisboa.
O presidente da APEL remete para “o diálogo” que está a manter com o ministério da Cultura. “Vemos neste momento, neste movimento, algo de positivo. Achamos que estas medidas estruturais são relevantes. Esperemos que o diálogo que estamos a ter agora com o Ministério da Cultura resulte na efetividade desse Cheque Livro”.
Pedro Sobral diz que esse Cheque Livro, já reclamado há muito pelos editores “é possível”. O responsável sublinha que não se sente “defraudado, porque há um diálogo muito interessante”, com o gabinete de Pedro Adão e Silva.
“Achamos que que vamos conseguir, de facto, ter políticas estruturais a curto prazo que permitam fixar esta tendência de novos leitores e, por isso, esperemos que, obviamente, a Feira do Livro seja também um marco neste crescimento e seja mais uma prova de que estamos a começar a construir-se índices de leitura mais próximos, dos índices da União Europeia, porque continuam a ser os segundos mais baixos”, explica Pedro Sobral.
O presidente da APEL que insiste numa política de longo prazo de incentivo à leitura tem defendido a criação de um Cheque Livro “para todos os residentes em Portugal, com 18 anos”. Pedro Sobral explica que na discussão do “orçamento na especialidade” foi inscrita “uma nova cláusula que prevê já o Cheque Livro” e considera isso, “um excelente sinal”.
“Vamos esperar pelas próximas conversas para perceber como, e quando” será aplicado o Cheque Livro aponta o presidente da APEL que volta a sublinhar que “mais o mais relevante é que, não só exista, como seja depois uma política tão basilar como é a Lei do Preço Fixo”.
Dando como exemplos os casos de Espanha, Itália e França, o responsável dos editores e livreiros lembra que o Cheque Livro não só fez subir os índices de leitura, como depois se tornou “num instrumento que ajuda a derrubar barreiras económicas”.