Diogo Ayres de Campos, presidente da comissão criada para dar resposta à crise nos serviços de urgência blocos de partos, garante que é necessário fechar unidades e serviços.
O responsável confirma que não há alternativa a esta solução por falta de médicos e é essa a recomendação que vai fazer ao Governo, embora assuma que essa será sempre uma decisão política.
“Já manifestei várias vezes a minha opinião de que como não temos obstetras e ginecologistas suficientes no SNS, e não conseguimos inventá-los, a única forma de resolver o problema é concentrar recursos”, considera.
“Terá de haver alguma concentração de recursos senão não conseguimos resolver os problemas”, sublinha.
Ayres de Campos defende ainda que na obstetrícia e na ginecologia “é muito difícil fazer uma urgência metropolitana”.
“A urgência não é só o atendimento para o exterior, mas também o internamento e o trabalho de parto e assistência ao parto. Se vamos encerrar um dia por semana, uma maternidade, vamos sobrecarregar as outras. E, por isso, ou asseguramos que há instalações suficientes nas outras [unidades] para que as utentes dessas maternidades tenham soluções, ou vamos ter um problema acrescido. Precisamos de camas”, avalia.
O especialista dá um exemplo que justifica a tese: “Toda a gente percebe que na ginecologia oncológica, certo tipo de cancros em que há dois ou três casos por ano, têm de ser centralizados num hospital onde há experiência. Não pode toda a gente estar a fazer tratamentos de cancro, em que não têm experiência."
Ayres de Campos ressalva que há uma diferença entre o que são situações agudas em que é preciso enviar pacientes, em que podem demorar uma hora a chegar a outro serviço, e as consultas programadas e cirurgias programadas que podem ser enviadas para centros que são a mais de uma hora de distância.
A comissão vai propor a criação de hospitais de três níveis, sendo que os centros de 3º nível são os mais diferenciados. No entanto, não vão poder existir em todas as localidades.
“Nos sítios com menos população não há forçosamente necessidade e haver nível 1, 2 e 3, porque depende da distância. A primeira coisa que fizemos foi calcular as distâncias entre um hospital e outro, mas é possível referenciar certo tipo de situações, mais raras, que é preciso mais experiência para os de nível 3 que estão localizados nas grandes cidades. Não é forçoso cada região ter o seu hospital de nível 3”, acredita.
Diogo Ayres Campos afirma que este é um documento bastante complexo porque engloba não só a os partos e a obstetrícia, mas também dos problemas da reprodução, da oncologia ginecológica, e da uroginecologia.
“Temos os relatores que estão a fazer a primeira versão, e que até ao fim do dia vão produzir a primeira versão, que está muito próxima de estar pronta”, adianta.
A proposta final está apresentada até14 setembro.