Francisco diz que os centros de acolhimento de refugiados “são laboratórios de paz” e apela para que Malta seja um "porto seguro" para os refugiados.
A viagem do Papa a Malta terminou
no Centro de Migrantes “João XXIII Peace Lab” em Hal Far, que recebe
pessoas da Somália, Eritreia e Sudão.
Perante cerca de 200 migrantes, Francisco pediu para que não vingue a resignação e o conformismo de que “não há nada a fazer”. Aproveitou o testemunho de migrantes para denunciar a violação de direitos humanos, “infelizmente, com a cumplicidade das autoridades competentes”.
Depois de ouvir o testemunho de dois migrantes - Daniel Jude Oukeguale e Siriman Coulibal - o Papa lembrou que “a experiência do naufrágio foi vivida por milhares de homens, mulheres e crianças no mediterrâneo” e que essa experiência “infelizmente se revelou trágica para muitos deles”.
Francisco afirmou que o encontro com migrantes no Centro João XXIII manifesta “plenamente o significado do lema desta viagem” a Malta: «Trataram-nos com invulgar humanidade» (Atos dos Apóstolos; 28, 2).
Mas Francisco alertou também para outro naufrágio que “se consuma ao mesmo tempo que estes factos”, e que é “o 'naufrágio da civilização' que ameaça não só os deslocados, mas a todos nós”. De acordo com Sua Santidade, só é possível a salvação deste naufrágio “comportando-nos com humanidade” ao “olhar as pessoas não como números, mas pelo que são”, isto é, como “rostos, histórias, simplesmente homens e mulheres, irmãos e irmãs”.
“Talvez mesmo neste momento, enquanto aqui nos encontramos, haja barcaças que estão a atravessar o mar de sul a norte! Rezemos por estes irmãos e irmãs que arriscam a vida no mar à procura de esperança”, reforçou.
Dirigindo-se aos presentes, o Papa fez questão de voltar a lembrar aqueles que “foram obrigados a fugir da Ucrânia por causa da guerra” e que “também como vós” viveram este drama, e garantiu que pensa em todos e por eles oferece a sua oração.
Francisco revelou que se comoveu com “um outro testemunho” que recebeu do Centro de acolhimento com a “história dum jovem que contava o doloroso momento em que tivera de deixar a sua mãe e a sua família de origem”, porque “não se trata de um sofrimento momentâneo, emotivo”, mas algo que “deixa uma ferida profunda no caminho de crescimento dum jovem”. “Encontrar pessoas acolhedoras que saibam ouvir, acompanhar... isto ajuda a curar as feridas”.
Nesse sentido, o Papa entende que é importante que os Centros de Acolhimento “sejam lugares de humanidade” e deixou “um grande obrigado a quem aceitou tal desafio aqui em Malta e deu vida a este Centro”.
Francisco partilhou com os presentes um sonho: “que vós, migrantes, depois de ter experimentado um acolhimento rico em humanidade e fraternidade, possais tornar-vos pessoalmente testemunhas e animadores de acolhimento e fraternidade”, pois “este é o caminho! O caminho da fraternidade e da amizade social. Aqui está o futuro da família humana, num mundo globalizado”.
Recorrendo aos testemunhos que minutos antes tinha ouvido Francisco sublinhou o facto de ter sido dada “voz ao apelo sufocado de milhões de migrantes cujos direitos fundamentais são violados, infelizmente às vezes com a cumplicidade das autoridades competentes” e chamou a atenção para o ponto chave na questão migratória, “a dignidade humana”. “Repito-o agora valendo-me das tuas palavras: vós não sois números, mas pessoas de carne e osso, rostos, sonhos por vezes destroçados”, reforçou.
E já na parte final da sua intervenção Francisco alertou para a necessidade de não correr no risco do conformismo, e pediu para que “não nos deixemos enganar por aqueles que dizem 'não há nada a fazer', são problemas maiores do que nós". “Não, não caiamos nessa armadilha”, pediu o Papa.
Francisco quer “fogueiras de fraternidade” em que as pessoas se possam aquecer, a começar “por lugares como este, que talvez não sejam perfeitos, mas são "laboratórios de paz".