“Um Governo minoritário só terá sucesso se for eficiente”, avisa o antigo ministro das Finanças Eduardo Catroga, em jeito de conselho ao novo primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro.
Em declarações à Renascença, Eduardo Catroga defende que Luís Montenegro deve “criar uma perceção nos portugueses que, independentemente das dificuldades, está a trabalhar bem para o progresso económico e social do país”.
Foi assim que Cavaco Silva conquistou a maioria absoluta na década de 80, não por andar a distribuir dinheiro, afirma Catroga.
“Quando Cavaco tomou conta do poder, o país tinha saído de uma grande crise financeira e não foi por ele ter aberto os cordões à bolsa que, a seguir, os portugueses lhe deram a maioria absoluta, mas porque acreditaram que estava aqui um político diferenciado em relação aos políticos dos primeiros dez anos da democracia portuguesa. Um político que pensava o país, com capacidade estratégica e de execução.”
Também em declarações à Renascença, o diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira, recua ao Governo minoritário de Cavaco Silva, em 1985, e defende que Montenegro e a AD repitam a mesma fórmula, sejam ousados e apresentem rapidamente resultados.
“O Governo minoritário de Cavaco Silva, de 1985, foi um Governo com imensa iniciativa, tomou muitas medidas de reforma da economia, de adaptação à entrada na União Europeia, que ocorreu durante esse Governo. Era bom que este Governo minoritário da AD fosse bastante ousado e tivesse medidas com resultados o mais rápido possível, mas será ilusório pensar que quem derrubar, eventualmente, este Governo vá desaparecer, como aconteceu com o PRD, em 1987.”
Entendimentos à esquerda e à direita?
O economista defende ainda mais entendimentos partidários, "mesmo que seja acordos pontuais", sem restrições à esquerda ou à direita. "Governos de coligação e soluções de coligação são aquilo que é comum por essa Europa fora", sublinha.
Já Eduardo Catroga rejeita qualquer solução que inclua o Chega, Bloco de Esquerda ou Partido Comunista e critica o recente manifesto em que um grupo de social-democratas defendia um Governo com toda a direita.
O antigo ministro das Finanças acredita que o novo Governo da AD, mesmo minoritário, só será derrubado por uma “coligação negativa”, que junte os partidos mais extremistas.
Em declarações à Renascença, Eduardo Catroga defende que o PS tem obrigação de viabilizar os Orçamentos do Estado. “O país precisa de governabilidade e de um PS responsável, que fizesse o mesmo que o PSD fez quando esteve perante governos minoritários do PS, em que viabilizou os respetivos orçamentos.”
Pedro Braz Teixeira acredita que a AD vai conseguir aprovar as contas para 2025, mas não vê futuro neste Governo para além do próximo ano. O novo Governo tem margem para cumprir as promessas eleitorais mais urgentes e pouco mais, sublinha.
Eduardo Catroga admite o bom trabalho do PS, na eliminação dos défices, mas lembra que o país tem agora também uma “carga fiscal asfixiante e um investimento público historicamente baixo”. O novo Governo “não vai ter uma vida fácil”.
Para Pedro Braz Teixeira, o Governo está obrigado a apresentar resultados no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), um dossier que compromete também o PS.
Já Eduardo Catroga minimiza o impacto da atual instabilidade política na “bazuca” que vem de Bruxelas.