Desde que está em funcionamento, há um mês, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica estabeleceu já novos contatos com estruturas e instituições, entre as quais as Comissões Diocesanas, o Instituto de Apoio à Criança e a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.
No comunicado a que a Renascença teve acesso, a comissão liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht adianta que “a divulgação do estudo pode não estar a chegar a certas franjas da população, nomeadamente as que vivem em margens sociais, culturais e económicas”. Por isso, em breve será também enviada uma carta a todos os municípios do país “para que reforcem a mensagem” junto de entidades locais, como juntas de freguesia e órgãos de comunicação regionais. O objetivo é estabelecer pontes e aprofundar a investigação.
Até ao momento, a comissão, que está a investigar casos de abusos ocorridos nos últimos 70 anos, registou 214 depoimentos.
“Em muitos desses testemunhos, as vítimas não só descrevem o que aconteceu sobre elas mesmo, como frequentemente apontam o conhecimento ou a forte probabilidade de, naquelas circunstâncias de tempo e espaço, outras crianças terem sido vítimas do mesmo abusador”, lê-se na nota divulgada esta quinta-feira.
Os casos têm origem em todas as regiões do país, “urbanas e rurais”, e abrangem vítimas nascidas entre 1933 e 2006 “de todos os grupos sociais e níveis de escolaridade”. Existem testemunhos de portugueses que hoje residem no Reino Unido, Estados Unidos da América, Canadá, França, Luxemburgo e Suíça.
Além das comissões diocesanas, do Instituto de Apoio à Criança e da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, este grupo de trabalho independente, que pretende apresentar um relatório até 31 de dezembro de 2022, refere ter contactado também a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, institutos religiosos de Portugal, Associação Quebrar o Silêncio, Sistema de Proteção e Cuidado de Menores e Adultos Vulneráveis (inserido no Serviço de Escuta dos Jesuítas).
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, criada por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), no fim do ano passado, integra, além do médico Pedro Strecht, o psiquiatra Daniel Sampaio, o juiz conselheiro e antigo ministro da justiça Laborinho Lúcio, a socióloga Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares, e ainda a cineasta Catarina Vasconcelos. Tal como há um mês, data em que foram disponibilizados os meios de denúncia, a comissão sublinha a intenção de “dar voz ao silencio”, apelando a que as vítimas deem o seu testemunho e garantindo-lhes total anonimato.