No último discurso oficial na visita ao Cazaquistão, no encerramento do Congresso de Líderes Religiosos Mundiais e Tradicionais, o Papa começou por agradecer “estes dias de partilha” e “diálogo”, e todos os “esforços que visam a paz e a unidade”.
“A minha visita, que está agora a terminar, teve como lema ‘Mensageiros de paz e de unidade’ “, lembrou Francisco, sublinhando que “a paz é urgente, porque hoje qualquer conflito militar ou foco de tensão e confronto não pode deixar de provocar um nefasto ‘efeito dominó’, comprometendo seriamente o sistema de relações internacionais”.
Com a guerra na Ucrânia como pano de fundo, mas não esquecendo outros conflitos que se arrastam, o Papa reafirmou que a paz exige o empenho das religiões na rejeição de extremismos. Considera, por isso, muito importante o sinal que sai deste encontro, cuja declaração final reafirma o empenho no diálogo inter-religiioso como “serviço urgente e insubstituível à humanidade”, "necessário e sem retorno", e sublinha “a contribuição positiva das tradições religiosas para o diálogo e a concórdia entre os povos”.
Reconhecendo que “o terrorismo de matriz pseudorreligiosa” ainda fomenta “medos e preocupações a respeito da religião”, o Papa considerou “provindencial” a realização deste encontro.
“A Declaração do nosso Congresso afirma que o extremismo, o radicalismo, o terrorismo e qualquer outro incentivo ao ódio, à hostilidade, à violência e à guerra – seja qual for a motivação ou objetivo que se proponham – nada têm a ver com o autêntico espírito religioso e devem ser rejeitados nos termos mais decididos que for possível. Condenados, sem ‘se’ nem ‘mas’ “, sublinhou, aproveitando para dirigir um novo apelo aos líderes políticos mundiais.
“Nós, que cremos no Criador de todos, devemos estar na vanguarda da difusão da convivência pacífica. Devemo-la testemunhar, pregar, implorar. Por isso, a Declaração exorta os líderes mundiais a cessarem em todo o lado conflitos e derramamentos de sangue e a abandonarem retóricas agressivas e destrutivas Pedimo-vos, em nome de Deus e para bem da humanidade: empenhai-vos pela paz, não pelos armamentos! Só servindo a paz é que o vosso nome permanecerá grande na história”.
O ser humano “no centro” e mais responsabilidade às mulheres
Neste último discurso no Cazaquistão, o Papa considerou fundamental “preservar uma saudável relação entre política e religião”, e pediu “aos governos e às competentes organizações internacionais” que garantam a liberdade religiosa e de culto, com uma atenção especial para os que são vítimas de perseguição em guerra e sob ameaça.
"Pedimos veementemente aos governos e às competentes organizações internacionais que assistam os grupos religiosos e as comunidades étnicas que sofreram violações dos seus direitos humanos e liberdades fundamentais, e violências da parte de extremistas e terroristas, inclusive em consequência de guerras e conflitos militares", para que a liberdade religiosa não seja "um conceito abstrato", mas "um direito concreto".“Defendamos para todos o direito à religião, à esperança, à beleza... ao Céu”, afirmou, sublinhando que a fé “é a força escondida que faz avançar o mundo”.
Francisco defendeu, ainda, que todas as decisões importantes olhem mais “para o bem do ser humano do que para os objetivos estratégicos e económicos” ou “para os interesses nacionais, energéticos e militares”.
“Para se fazer escolhas que sejam verdadeiramente grandes, olhe-se para as crianças, os jovens e o seu futuro, para os idosos e a sua sabedoria, para a gente comum e as suas reais necessidades”, sem esquecer a defesa da família. E insistiu que, não só na Igreja, se deve dar mais protagonismo às mulheres, a quem devem “serem confiadas funções e responsabilidades maiores”.
“Quantas opções de morte seriam evitadas se estivessem precisamente as mulheres no centro das decisões! Empenhemo-nos para que sejam mais respeitadas, reconhecidas e envolvidas”, pediu o Papa, que deixou ainda uma palavra especial para os jovens, porque “são eles, mais do que quaisquer outros, que invocam a paz e o respeito pela casa comum da Criação”.
“Na mão dos jovens coloquemos oportunidades de instrução, não armas de destruição! E escutemo-los, sem medo de nos deixarmos interpelar por eles”, pediu Francisco neste último compromisso público da visita ao Cazaquistão, antes da viagem de regresso a Roma.