Covid-19. Mais de 80% dos advogados perderam rendimentos
27-05-2020 - 12:33
 • Liliana Monteiro

Inquérito da Ordem dos advogados ao setor revela, ainda, que muitos admitem ter recorrido a poupanças e empréstimos para pagar encargos. Outros pretendem abandonar a profissão.

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Mais de 80% dos advogados admitem ter perdido rendimentos durante o período de confinamento, por causa da pandemia da Covid-19. É o que revela um inquérito levado a cabo pela Ordem dos Advogados, entre 30 de abril e 8 de maio, e cujos resultados foram agora divulgados.

O inquérito, intitulado “Situação dos advogados portugueses em tempo de pandemia por Covid-19”, revela, também, que apenas 5,6% dos advogados inquiridos dizem que não sentiram qualquer decréscimo na atividade.

“Os advogados cuja atividade foi parcialmente afetada estimam que essa interrupção seja maior do que 50% da sua atividade habitual (1.074 advogados, 43,2%), ou entre 25% a 50% (918 advogados, 37%)", conclui o inquérito.

No que diz respeito à estimativa geral de redução de rendimento/honorários durante o período de confinamento, em comparação com a atividade normalmente exercida, "1.845 advogados (40,5%) indicam que terão uma redução de rendimentos de 50%, número este muito próximo dos 1.642 advogados (36,0%) que estimam uma redução de rendimento de 100%”.

No total, 85,1% dos advogados que responderam indicam que não lhes foi possível manter, durante o confinamento, a remuneração habitual.

Apenas 8,9% afirmam que a situação atual não afetou os seus rendimentos. Muitos sublinham ganhar mil euros ou menos por mês. A grande maioria trabalha a título individual. Apenas 20% integra o Sistema de Acesso ao Direito e aos Tribunais (oficiosas) como prática principal.

Advogados admitem deixar a profissão


Quantos ao pagamento de encargos durante o confinamento, 12,4% declaram não ter conseguido pagar nenhuma das suas despesas profissionais correntes (CPAS, rendas dos escritórios e despesas associadas) e 48,6% conseguiu honrar todos os seus compromissos profissionais com sacrifício pessoal, “muitas vezes só possível através de poupanças ou empréstimos contraídos para o efeito”.

Também foram muitos os que declararam ter conseguido pagar apenas recorrendo a ajuda de familiares (4,8%) e, por último, muitos mencionam acreditar que é impossível continuar a manter a mesma situação e honrarem esses compromissos no corrente mês de maio.

Diminuição de trabalho, falta de clientes com o encerramento dos tribunais, suspensão de prazos, e os encargos financeiros da atividade foram os principais fatores apontados para as dificuldades sentidas.

À pergunta “o que está a pensar fazer para resolver a situação?”, 51% dos advogados inquiridos optaram por não responder. As respostas obtidas dividiram-se entre o equacionar do encerramento da atividade, mudança de profissão ou procurar emprego, e aguardar o retorno à normalidade e a melhoria da situação.

Neste inquérito, foram recebidas 4.560 respostas, entre os 33.590 advogados com inscrição em vigor. As idades mais representadas são as do grupo etário dos 40 aos 50 anos (40,6%), seguido da faixa etária dos 50 aos 60 anos (23,5%).