Jô Soares, que morreu esta sexta-feira aos 84 anos, era um mestre na “diplomacia do humor”, recorda o apresentador e comunicador Júlio Isidro, que o entrevistou no programa “O Passeio dos Alegres”.
Júlio Isidro fala de um homem com uma grande cultura que, em vez de seguir a carreira diplomática, preferiu optar por um humor diplomático.
“É falar com um humorista que sabia porquê e como fazer o humor. Era um homem de uma cultura vastíssima. Falava cinco línguas, tinha estudado para ser diplomata porque era aquilo que o pai gostava que ele fosse, mas ele preferiu fazer a diplomacia do humor, porque o humor dele era diplomático, muitas vezes problemático para quem fosse visado, mas curiosamente no trabalho humorístico do Jô Soares nunca houve a referência expressa do nome da pessoa, de ridicularizar a personagem, fosse ela qual fosse.”
Júlio Isidro entrevistou por duas vezes Jô Soares quando ele veio a Portugal. Uma delas foi no programa “O Passeio dos Alegres”.
“Entrevistar o Jô é entrevistar um humorista que não se sente sempre na obrigação de estar sempre a dizer gracinhas, o que eu acho que é a melhor definição para quem faz do humor uma coisa séria. A entrevista que eu lhe fiz no Passeio dos Alegres, que teve cerca de duas horas, falámos de coisas da vida, do humor, do trabalho, das artes, da situação no Brasil, mas sempre com graça, mas sem dizer gracinhas.”
Em declaração à Renascença, Júlio Isidro recorda algumas das personagens criadas por Jô Soares, que ficaram na memória dos brasileiros e dos portugueses.
“Não era um senhor que dizia umas piadas. Cada personagem que ele criava tinha sempre uma intenção. Fosse o Zé da Galera, que era obcecado por futebol e pela seleção brasileira, era o Carmelo, que mandava calar o Baptista: ‘Cala a boca Baptista’, porque no fundo era uma forma de dar a entender que no Brasil, onde imperava o silêncio imposto, lá estava a frase dele.”
Jô Soares tinha dois grandes amigos em Portugal, Raul Solnado e Nicolau Breyner. Júlio Isidro lembra também um dos programas em que Jô Soares contracenou com Nicolau Breyner, no “Eu Show Nico”, em que vestiram a pele de um brasileiro e um português que não se conseguiam entender apesar de falarem a mesma língua.
Mas para além de humorista e “criador de personagens único”, Jô Soares foi ainda apresentador de televisão, ator, realizador de cinema e escritor.
O humorista brasileiro foi também “o rei dos talk shows” e esteve 21 anos no ar a entrevistar “milhares de pessoas, algumas delas humoristas portugueses, como o Ricardo Araújo Pereira”, sublinha Júlio Isidro.
Jô Soares, que morreu esta sexta-feira no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, escreveu ainda “O Xangô de Baker Street”, “O Homem que Matou Getúlio Vargas” e “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras”.