De comediante a Presidente da Ucrânia. Quem é Volodymyr Zelenskiy?
25-02-2022 - 21:58
 • Daniela Espírito Santo

Saiba como um ator, conhecido por fingir ser Presidente numa série de TV, se tornou líder de uma nação atacada pela Rússia.


Se, há quatro anos, perguntasse a algum ucraniano quem era Volodymyr Zelenskiy, iria receber uma resposta surpreendente. O atual Presidente da Ucrânia era um conhecido comediante, famoso pela sua sátira e, entre outras coisas, por fingir tocar piano com... as "partes baixas". Em 2019, no entanto, catapultou o seu sucesso e assumiu um papel bem mais sério, o de líder da nação.

Apesar de tudo, o papel não lhe era estranho: Zelenskiy, 44 anos, venceu as eleições presidenciais ucranianas depois de estrelar a série "Servant of the People", onde era Presidente. Tornou-se na personagem que interpretava, vida a imitar arte, mas qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Nem os escritores da série poderiam adivinhar o papel que cumpriria em 2022, como líder de um país atacado pelo poderoso vizinho, a Rússia de Vladimir Putin.

"Servir o povo" na TV e na realidade

Na televisão, Zelenskiy era Vasily Goloborodko, um professor de História irritado com a corrupção no seu país que, um dia, acordou e era Presidente da Ucrânia, depois de um aluno o ter filmado à socapa. A personagem lutava contra os poderosos oligarcas e contra um parlamento corrupto. Era visto como um líder sem carreira, mas sem mácula, inexperiente, mas honesto.

Usando a sátira como principal arma, a "persona" de Zelenskiy acabaria por cativar o público e daria origem a uma campanha bem sucedida, embora ironicamente polémica, ou não fosse financiada por um oligarca ucraniano investigado por fraude nos EUA.

O Trump da Ucrânia

O seu posicionamento como elemento "fora da caixa" e afastado dos poderosos políticos habituais rendeu-lhe uma vitória expressiva de mais de 70% contra Poroshenko, Presidente em exercício. Na altura, chamaram-lhe "o Trump da Ucrânia" devido à sua inexperiência política, mas a opinião do público foi mudando ao longo do tempo, quase tão volátil como a jovem democracia na região.

Ironicamente, seria ele a causar um escândalo internacional que envolveria, precisamente, Trump: o primeiro "impeachment" do antigo Presidente norte-americano aconteceria após uma agora famosa chamada entre Trump e Zelenskiy, em 2019, em que Trump tentava convencer o ucraniano a investigar os negócios da família Biden no país.

Agora Zelenskiy, que usou como bandeira de campanha a promessa de paz ao leste da Ucrânia, encontra-se agora a braços com uma invasão e um dos argumentos da Rússia é a situação da população russófona nas zonas separatistas. O que podemos esperar dele nos próximos tempos?

Ainda antes da invasão russa, Zelenskiy já viralizara nas redes sociais um pouco por todo o planeta ao dirigir-se, em russo, aos seus agora inimigos, pedindo à nação vizinha que travasse os desejos de Putin. Um poderoso e histórico discurso que ecoou pelo mundo, mas de nada serviu. A Ucrânia haveria de ser invadida horas depois, na madrugada de quinta-feira.

Zelenskiy falou em russo à nação vizinha, num gesto que apenas surpreendeu quem não conhece o seu passado. Filho de judeus, Zelenskiy cresceu numa zona ucraniana pró-Rússia mas, no seu curto percurso político, conseguiu deixar para trás as alegações de apoio a oligarcas e ao perigoso inimigo da "porta" ao lado e posicionou-se como um nacionalista.

Apesar da sua pouca experiência política e da sua carreira longe dos caminhos diplomáticos mais convencionais, Zelensky recebe, agora, o apoio do seu povo e é visto como um bom líder. Uma analista política ucraniana citada pelo New York Times, Maria Zolkina, assegura que Zelenskiy não é "Presidente de guerra mas, desde que se tornou claro a extensão do ataque, ele age exatamente como um Presidente deveria agir durante tempos de guerra".

Zelenskiy não arreda pé de Kiev, horas antes da expectável tomada da capital ucraniana. Mesmo sabendo que é o "inimigo número 1" da Rússia e tem a cabeça a prémio. "A minha família é o alvo número dois", diz, garantindo que, mesmo assim, não abandonará a capital.