O antigo comissário europeu Carlos Moedas defende “um forte investimento numa solução europeia” em relação à tecnologia do 5G, considerando que esta é uma "oportunidade enorme" para a União Europeia (UE).
Carlos Moedas falava esta segunda-feira em videoconferência durante um evento online organizado pelo Partido Social Democrata (PSD), no qual um dos temas em debate foi a tecnologia e a posição da UE em relação aos mais recentes avanços tecnológicos, nomeadamente a quinta geração móvel (5G).
O antigo comissário europeu começou por lembrar que “a primeira vaga da tecnologia foi extremamente europeia”, uma vez que “as primeiras empresas que construíram a infraestrutura da Internet eram todas europeias”.
“Depois veio uma segunda vaga muito forte, a do digital, e aí a Europa perdeu completamente” para empresas norte-americanas, como a Google e o Facebook, considerou, acrescentando: “Aí perdemos completamente, não tivemos hipótese nenhuma”.
“Agora, temos uma terceira vaga, que vai ser diferente da primeira e da segunda, mas que terá, sem dúvida, um mecanismo muito mais de tecnologia e daquilo que os engenheiros chamam de ‘deep tech’, ou seja, de ir ao cerne da ciência da tecnologia, que o digital não tinha”, indicou Carlos Moedas.
Nesta 'terceira vaga' tecnológica, o ex-comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação não tem dúvidas de que a inteligência artificial (IA) e o 5G “vão definir o nosso futuro”, e, neste contexto, a Europa tem a oportunidade de definir a IA, “não só pela tecnologia, mas através de escolhas políticas”.
“A inteligência artificial deve ser algo que nos melhore como seres humanos, não algo que nos substitua; deve ser algo que respeite a nossa privacidade, algo em que os nossos dados estejam protegidos. Esta é uma das grandes armas que temos geopolíticas”, sublinhou.
Em relação à tecnologia do 5G, Carlos Moedas defende uma “solução europeia”, sobretudo porque “a Europa tem metade das patentes da 5G, enquanto a China tem 30% e os Estados Unidos 12%”.
"Talvez isto explique parte da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, porque os norte-americanos, em termos de 5G, estão a perder totalmente a batalha para a Europa e para a China, o que nos dá uma oportunidade enorme, mas que muitas vezes não conseguimos sentir”, notou.
“O problema hoje do 5G são as chamadas portas de entrada, ou seja, são tecnologias que têm portas de entrada e nas quais um governo pode entrar e ir buscar informações sobre as nossas vidas. Temos de ser capazes de nos proteger disso”, defendeu.
Carlos Moedas afirmou que a UE tem de ter capacidade de “construir uma 5G que seja segura e que não deixe que os governos possam intervir nessa tecnologia”.
“Aquilo que se está a ver hoje é que ninguém tem a certeza de que uma tecnologia chinesa, neste caso, não tivesse uma intervenção do governo na própria infraestrutura da tecnologia. Neste momento, seria muito difícil politicamente para a Europa dizer que aceitaria uma solução puramente chinesa. Eu acho que o caso do 5G é um excelente exemplo onde podemos trabalhar pela nossa inteligência, com a nossa tecnologia, pela nossa assertividade”, concluiu.