Coronavírus. Retirada de presos vulneráveis “já devia estar definida”
29-03-2020 - 10:03
 • André Rodrigues , Marta Grosso

Sindicato do Corpo da Guarda Prisional mostra-se preocupado, agora que são três os casos conhecidos de infeção dentro das cadeias portuguesas, um deles na maior delas.

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A possibilidade de afastar os detidos em situação de maior vulnerabilidade da convivência com os outros já deveria ter sido pensada, defende o presidente do Sindicato do Corpo da Guarda Prisional.

Em declarações à Renascença, e numa altura em que se sabe que um guarda prisional é o mais caso de infeção nas prisões portuguesas, Jorge Alves defende que o Governo já devia ter um plano para as cadeias.

“Isto já devia estar planeado, não é vir agora dizer que está a pensar, quando os outros países até ainda não libertaram [os reclusos mais frágeis] e já atingiram um nível muito mais grave da pandemia, com efeitos dramáticos em Itália, com tumultos até em vários estabelecimentos prisionais”, afirma.

“Portanto, já devia estar definido, não devia estar a ser mastigado a conta-gotas”, reforça.

Nesta altura, estão confirmados três casos de infeção pelo novo coronavírus nas prisões portuguesas. O mais recente, conhecido durante a noite de sábado/madrugada de domingo, é o de um guarda prisional do estabelecimento de Custóias, no Porto.

“É só o maior estabelecimento prisional do país”, com “tem cerca de 1.100 reclusos”, sublinha o sindicalista.

“Como é que se vai conseguir perceber em que ponto está Custoias em termos da infeção? Isso preocupa-nos muito, porque são cerca de 150 guardas prisionais que trabalham no Estabelecimento Prisional do Porto e que na sua generalidade, até quinta-feira, podem ter corrido o risco de ter ficado contaminados no contacto com esse colega”, afirma.

Jorge Alves questiona mesmo se o caso conhecido do guarda prisional será o único. “Se assim for, menos mal, mas é sempre muito mau isto acontecer, quando nós, há muito tempo, temos vindo a alertar a direção-geral e a apelar que reduzam as possibilidades de contágio monitorizando o pessoal, alterando o horário de trabalho, impedindo entradas e saídas nos estabelecimentos prisionais de pessoas que possam contribuir para um contágio generalizado do pessoal”.

Entretanto, o diretor-geral dos Serviços Prisionais já admitiu retirar os reclusos mais vulneráveis das cadeias, depois de, durante a semana, a alta comissária para os Direitos Humanos das Nações Unidas ter apelado a todos os países que tirassem das cadeias os presos mais frágeis, como os idosos e doentes crónicos.


Em entrevista à SIC, Rómulo Mateus, o diretor-geral dos Serviços Prisionais, mostrou-se recetivo à ideia.

Além do guarda prisional em Custóias, uma auxiliar médica e uma reclusa de Caxias são os outros dois casos de infeção com Covid-19 e estão ambas internadas no Hospital Prisional de Caxias, em Oeiras.