O presidente da Liga de Bombeiros rejeita qualquer envolvimento em alegadas fraudes com refeições. “Não acredito e rejeito liminarmente”, afirma Jaime Marta Soares, reagindo à notícia de que podem ter sido cobradas à Proteção Civil milhares de refeições superiores ao número de operacionais no terreno em 2017.
Um relatório da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) revelou que o Estado pagou quase quatro vezes mais pelas refeições fornecidas às corporações de bombeiros que atuaram nos incêndios de Mação em 2017.
Ressalvando que “ninguém está acima da lei” e que é necessária uma investigação, Jaime Marta Soares explica que quem controla as refeições é a Proteção Civil e lamenta que se queira “lançar sobre os bombeiros o anátema da desonestidade”.
“Rejeito porque sei como estas coisas se processam no terreno em termos de confecionar as refeições. Não são os bombeiros que inventam, nos quartéis de bombeiros ou nos locais onde são responsáveis, quantas refeições são necessárias”, começa por explicar.
“As refeições são confecionadas a pedido de quem é o responsável e que tem o controlo, que é a Autoridade Nacional de Proteção Civil, através dos seus representantes no distrito”. São, portanto, os comandos regionais que fazem “o controlo de quantas refeições são precisas e que as mandam confecionar”, acrescenta.
“Muitas vezes, fazem a encomenda a um que está na zona Charlie e outro que está na zona Delta e depois os que estão na zona Charlie não vão à Delta ou não vão a outra e ficam muitas refeições por tomar, mas que são encomendadas”, exemplifica ainda o presidente da Liga dos Bombeiros na Manhã da Renascença, esta sexta-feira.
Agora, o importante é que se apure o que se passou em Mação, em 2017, o incêndio onde, segundo a IGAI, terá havido refeições a mais pagas pelo Estado.
“Tem que se apurar o que foi efetivamente encomendado, o que foi confecionado e depois o que é que não foi consumido e porque é que não foi consumido. Vai uma grande diferença. Não foi chegar ali, multiplicar x por x e dar tanto; isso teve uma base”, defende.
O presidente da Liga de Bombeiros reforça ainda a necessidade da presença de elementos das Forças Armadas para confecionar as refeições para os operacionais durante o combate aos incêndios.
“Os bombeiros reclamaram muitas vezes que não tinham condições para o fazer e pediram muitas vezes, através da Liga dos Bombeiros Portugueses, para que estivessem lá as cozinhas e os cozinheiros da Marinha, do Exército, da Força Aérea, que têm muitos equipamentos e que estiveram nalguns teatros de operações a confecionar refeições, para que os bombeiros não se metam nisso, porque os bombeiros não se querem meter nisso”, garante.
A Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) admite que a fraude pode ser generalizada e remeteu o caso para o Ministério Público investigar. O relatório fala de uma situação que assume “contornos criminais” com “prejuízo para o Estado português”.