As Bandas Filarmónicas acumularam no último ano e meio de pandemia cerca de 36 milhões de euros de prejuízos. As contas são da Confederação Musical Portuguesa e resultam de um inquérito às suas associadas.
Em entrevista à Renascença Martinho Caetano revela que muitas instituições vão conseguir sobreviver à custa dos apoios das Câmaras Municipais que juntaram aos seus apoios regulares, um “reforço de subsídios”.
Neste entrevista, que assinala o regresso de procissões e romarias que são responsáveis “por 50 por cento do orçamento” das bandas filarmónicas, o Presidente da Confederação Musical Portuguesa sublinha também o apoio que o Estado acabou por conceder às diversas associações através do programa “garantir cultura” que vai culminar com uma atuação de todas as bandas filarmónicas portuguesas que se candidataram (ao programa) uma atuação publica, um concerto, ou outro tipo de atuação publica no dia 5 de outubro.
A Conferência Episcopal anunciou a possibilidade do regresso das procissões. É altura para fazermos um breve balanço, sobretudo dos prejuízos e constrangimentos causados pela pandemia no setor da música filarmónica. É já possível apontar o valor dos prejuízos decorrentes de ano e meio de inatividade das bandas filarmónicas?
As bandas filarmónicas portuguesas tiveram um prejuízo enorme de ordem artística, porque, por força da pandemia, logo em meados do março do ano passado foram obrigadas a encerrar portas, a deixar de ensaiar e logo depois viram canceladas todas as atuações da época filarmónica do ano 2020, e daí vieram também prejuízos financeiros enormes. De acordo com um estudo que realizámos e uma auscultação nacional que levámos a efeito em maio do ano passado, chegámos a conclusões de valores muito importantes, nomeadamente de perda de receita na ordem dos 18 milhões de euros por cada época filarmónica. Portanto, estamos a falar de uma perda de receita resultante daquilo que seria a atuação das bandas durante o ano de 2020 que totalizou 18 milhões de euros e agora já em 2021 igual número porque, efetivamente, verificou-se igual problema que foi a proibição pura e simples da atuação pública das bandas filarmónicas portuguesas, designadamente nas festas e romarias religiosas e populares.
E isto significa que haverá bandas que podem correr o risco de fechar portas?
Nós tivemos esse receio que grande parte das bandas filarmónicas, sobretudo de regiões do país mais desfavorecias, mais isoladas, mais desertificadas e, portanto, mais pobres, não conseguissem retomar a sua atividade. Felizmente que os augúrios que temos neste momento não vão nesse sentido, porque, graças sobretudo ao reforço de subsídios por parte das câmaras municipais em quase todo o país e também por outras entidades nomeadamente as juntas de freguesia, mas sobretudo as câmaras municipais, têm aqui um papel fundamental no financiamento regular das bandas de música. Nós temos neste momento informação que quase todas as bandas pelo país inteiro estão a fazer esforços imensos para retomar as suas atividades.
Quão importante também o programa do ministério da cultura de apoio às bandas?
O programa garantir cultura possibilitou que as bandas de música se pudessem candidatar a este programa garantir cultura, lançado pelo Ministério da Cultura para apoio às entidades não profissionais e que vai culminar com uma atuação de todas as bandas filarmónicas portuguesas que se candidataram e são a maior parte delas; uma atuação publica, um concerto, ou outro tipo de atuação publica no dia 5 de outubro próximo. Isto vai permitir em contrapartida que cada banda filarmónica receba uma verba a fundo perdido de oito mil euros. Nós temos neste momento dados que atiram para um volume de candidaturas na ordem de três centenas, não são ainda números definitivos. Mas neste momento nós podemos quantificar uma entrada para as bandas filarmónicas portuguesas a fundo perdido na ordem dos 2,4 milhões de euros.
Quantas são as bandas filarmónicas portuguesas neste momento?
Nós temos em funcionamento cerca de 750 bandas filarmónicas no todo do território, portanto, incluindo continente e ilhas da Madeira e dos Açores. Algumas com mais de 200 anos de existência. É este o novo quadro filarmónico português pelo qual lutamos diariamente e agora com mais força ainda para que exista uma retoma plena de todas as bandas filarmónicas do país e que nenhuma fique para trás e que nenhuma feche portas.