A entrevista era sobre “Os Beijos”, o novo livro que o escritor espanhol Manuel Vilas está a lançar em Portugal pela editora Alfaguara e que tem como pano de fundo a pandemia. Mas este que é um dos autores mais eminentes da nova literatura espanhola não se conseguiu conter. “Depois do vírus, vem Putin!”
Manuel Vilas, que se assume como “um grande vitalista” que defende a vida, não conseguiu deixar de mencionar nesta entrevista à Renascença o ataque da última madrugada da Rússia à Ucrânia.
Na Póvoa de Varzim, onde participa no encontro literário de expressão ibérica, Correntes d’Escritas, o escritor que acaba de lançar um dos primeiros romances europeus sobre a pandemia, diz que há um novo vírus a atacar a vida.
“Para mim a vida é sagrada, a pandemia atacou a vida”, aponta Vilas. O autor que venceu o Prémio de Las Letras Aragonesas em 2015 fala sobre a “terrível notícia” de que “Putin invadiu a Ucrânia” para apontar que “há inimigos da justiça, da vida e da felicidade de viver”.
Manuel Vilas elege a literatura como uma arma. “A minha literatura é uma luta contra os inimigos da vida, é como uma arma de defesa da vida”, refere o autor que em “Os Beijos” conta uma história de amor, em tempo de pandemia.
A guerra de Manuel Vilas é feita de palavras, diz que Trump e Putin repudiam a forma de viver da Europa culta. Na opinião do autor, o ex-presidente norte-americano e o atual presidente russo “odeiam a União Europeia porque ela criou uma coisa maravilhosa chamada classe média”.
Essa classe média “que lê romances, desfruta da vida e que conseguiu prosperidade e progresso”, é segundo Vilas inimiga da forma de pensar de líderes como Trump e Putin que não “suportam essa classe média”, diz o autor de obras como “Em tudo havia beleza”.
“Os russos não têm uma boa vida e o que Putin quer dissimular é o que se passa na Rússia, com uma guerra. Por isso quem está realmente ameaçado somos nós, os europeus”, reflete Manuel Vilas, o autor que tem já três livros editados em Portugal.
Além de “Em tudo havia beleza”, Manuel Vilas viu traduzidas para português as obras “E, de repente, a alegria” com que foi finalista dos prémios Planeta e Jean Monnet de Literatura Europeia, e agora “Os Beijos”.