Francisco no Egipto. Um Papa que acredita que é possível vencer a violência
27-04-2017 - 19:39
 • Cornelis Hulsman

Cornelis Hulsman é um sociólogo holandês a viver no Egipto desde 1994. Especialista em relações entre cristãos e muçulmanos no Egipto, é vice-presidente do Center for Arab West Understanding, uma ONG para o diálogo inter-religioso, e membro da Igreja Copta. Foi correspondente de vários jornais e é membro da Associação da Imprensa Estrangeira no Cairo.

O Papa Francisco chega esta sexta-feira ao Egipto e permanece por um período de apenas 27 horas. Terá, por isso, uma agenda incrivelmente cheia que consistirá de várias reuniões, nomeadamente com o Presidente al-Sisi, o Papa Tawadros II, líderes católicos e, claro, pessoas comuns.

Francisco vai celebrar missa num estádio usado pelo Exército egípcio e os participantes são membros de paróquias que se inscreveram e receberam convites. São conhecidos os dados e a identificação de todos os participantes.

Não tenho a sorte de poder ir – regressei ao Egipto depois da Páscoa e soube que já não havia convites disponíveis. Felizmente, graças ao padre católico Mathieu Grenier, terei a sorte de estar com o Santo Padre no sábado.

O Papa Francisco está a seguir as pegadas do Papa João Paulo II, que visitou o Egipto no ano 2000. Ele conquistou o coração dos egípcios. Recordo o júbilo e a alegria dos egípcios quando o receberam. O Papa Francisco acredita genuinamente que a força da esperança e da fé podem ultrapassar o medo e a violência e espera-se que consiga também tocar os corações não só dos católicos, mas também de outros cristãos e até muçulmanos.

O Egipto atravessa um período muito difícil da sua longa história. A revolução de 2011 e os eventos que se lhe seguiram dividiram profundamente o país e arruinaram a economia, enquanto a população continua a crescer. Houve uma grande fuga de cérebros e o terrorismo continua a ser uma praga, como comprovam os dois recentes ataques a Igrejas Coptas Ortodoxas em Tanta e em Alexandria. O terrorismo e o medo que gera afectam profundamente a economia turística do Egipto.

O país precisa de apoio para ultrapassar os desafios que enfrenta e a visita do Papa é precisamente um sinal desse apoio.

O nome escolhido pelo Papa, Francisco, refere-se a São Francisco de Assis, que veio ao Egipto em 1219 durante as cruzadas. “Ele esperava que a sua fé e a sua língua de ouro conseguissem persuadir os governadores muçulmanos do Egipto sobre a verdade da doutrina cristã e, assim, restaurar o Egipto ao cristianismo”, escreve o blogger e médico copta americano Maged Atiya. “Surpreendentemente, São Francisco teve pouco contacto com cristãos egípcios. Se o tivesse feito teria percebido que o país ainda era substancialmente cristão. São Francisco não foi o primeiro ocidental a tomar os governadores dos egípcios por indígenas.”

O Papa Francisco está mais bem preparado, mas vem por demasiado pouco tempo. Contudo, espera-se que os efeitos da sua visita sejam tão visíveis e perdurem tanto como os da visita do seu antecessor, o Papa João Paulo II.


Texto publicado originalmente na revista online Arab-West Report, de que Cornelis Hulsman é director e fundador.