A maioria dos tradutores certificados recusa trabalhar para o setor da justiça porque paga mal e o que quer. "A pouca-vergonha é essa", diz a presidente da Associação de Profissionais de Tradução e de Interpretação.
"É o preço que ao contrário de qualquer relação comercial normal, aqui é o cliente - o estado - que diz ao tradutor que paga X e que o tradutor tem de fazer o trabalho no prazo Y", diz Paula Pinto Ribeiro à Renascença.
Outro problema, assegura, é que o pagamento é feito quando os tribunais querem. "Até já temos uma colega, que está reformada, que tem faturas de 2006 por receber", sublinha.
Devido a isso, muitos tradutores optam por não fazer traduções de processos judiciais.
Em 2018, e depois da União Europeia ter recomendado que os países membros criassem uma bolsa de tradutores-intérpretes com formação jurídica, a Associação chegou a reunir com o Ministério da Justiça, que equacionou possibilidade de criar um curso de certificação de tradutores-intérpretes. Mas essa possibilidade não passou disso mesmo.
Se fosse uma realidade, essa bolsa impedia, por exemplo, que empresas de tradução estejam nesta altura à procura de tradutores para traduzir peças processuais de julgamentos portugueses. O problema, diz a presidente da Associação de Profissionais de Tradução e de Interpretação, é que "estão a tentar recrutar os tradutores errados".
"Ainda ontem tivemos colegas que são tradutoras médicas a receber e-mails a perguntar se estavam disponíveis para traduzir peças processuais de direito". Por isso, Paula Pinto Ribeiro não hesita em referir que "a confusão é tal, e o processo está a ser gerido de uma forma, que nada garante que a pessoa que vai aceitar o trabalho e que diz que pode traduzir não sei quantas páginas seja realmente uma tradutora ou tradutor jurídico com capacidade de o fazer".
Por isso, Paula Pinto Ribeiro admite que o cumprimento de prazos com as autoridades sul-africanas pode estar em causa. Não só, mas também "pela forma como o processo de seleção de tradutores poderá estar a ser feito".