O porta-voz da Companhia de Jesus, padre José Maria Brito, considera que "querer transformar o padre António Vieira num extremista é o melhor favor que fazemos a todos os extremistas".
Em declarações à Renascença, na sequência do episódio de vandalização da estátua do padre António Vieira, em Lisboa, José Maria Brito sublinha que "transformar o padre António Vieira em algo que se possa assemelhar ao racismo" adultera a sua obra e é também "um mau serviço na luta contra o racismo".
O sacerdote lembra que "muitos valores que nós temos hoje na defesa da dignidade da pessoa” foram-nos transmitidos pela obra do padre António Vieira, pelo que é de lamentar a simplificação da sua figura e a de outras personalidades da História que acabam “por transformá-las naquilo que elas não são”.
O porta-voz da companhia de Jesus diz-se preocupado com o ambiente de polarização criado à volta da luta contra o racismo, que "transforma isto numa guerra que gera atitudes defensivas e em que cada um se coloca numa atitude de superioridade sem que se olhe com verdade e com honestidade para o problema".
Nestas declarações à Renascença, o padre José Maria Brito aplaude a decisão da Câmara de Lisboa, que “prontamente, limpou a estatua e restabeleceu a dignidade do monumento”, respondendo "a um ato que é simplificador e falsificador daquilo que é a história, o que não ajuda a que tenhamos um olhar critico nem sobre a história nem sobre o presente”.
O porta-voz da companhia de Jesus alude ao facto de o padre António Vieira ter vivido “num contexto muito diferente do nosso, o que permite um olhar critico e a necessidade de entendê-lo à luz do seu tempo”, mas reforça a ideia de que “é claro que na obra de António Vieira encontramos uma raiz muito importante na defesa da dignidade humana, independentemente de qual seja a origem e a raça das pessoas”.