O ministro do Interior francês criticou este sábado a "resposta totalmente inadequada" e a "falta de humanidade" do Reino Unido em relação aos refugiados ucranianos enviados de volta para Calais, numa carta endereçada à homóloga britânica, Priti Patel.
Tentando juntar-se às suas famílias do outro lado do Canal da Mancha, cerca de 150 ucranianos em fuga do seu país, invadido pela Rússia, foram convidados nos últimos dias pelas autoridades britânicas “a dar meia-volta” e a “ir para Paris ou Bruxelas” para obterem vistos nos consulados, afirma Gérald Darmanin na missiva, citada pela agência noticiosa francesa AFP.
Gérald Darmanin prossegue condenando essa “resposta totalmente inadequada” e uma “falta de humanidade” em relação aos refugiados em “aflição”, “muitas vezes, mulheres com crianças pequenas, pessoas idosas ou deficientes”.
No total, “mais de 400 cidadãos ucranianos” chegaram a Calais desde o início da guerra, a 24 de fevereiro, segundo o ministro do Interior francês.
Desde há vários dias, a sua situação é fonte de atrito entre Londres e Paris, cujas relações já estavam tensas por causa da questão das travessias ilegais de migrantes.
O Governo francês anunciou na quinta-feira que o Reino Unido iria instalar “uma espécie de consulado” em Calais para ali emitir diretamente vistos aos ucranianos no local.
“Torna-se imperativo que a vossa representação consular, a título excecional e durante o período da crise, tenha condições para emitir vistos para reunificação familiar diretamente em Calais”, escreveu o ministro francês à homóloga britânica.
“Seria incompreensível que, quando reforços consulares estão a ser mobilizados para esse fim em toda a Europa, e até na Ucrânia, o mesmo não acontecesse no ponto mais próximo da vossa fronteira”, acrescentou na carta.
“As nossas costas foram palco de demasiadas tragédias humanas”, concluiu, referindo-se ao naufrágio de migrantes que fez 27 mortos no fim de novembro, “não lhes adicionemos as destas famílias ucranianas”.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades.
As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já fizeram mais de 1,2 milhões de refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia, entre outros países.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.