Emmanuel Macron ou Marine Le Pen. Um destes nomes será o próximo presidente francês. O resultado eleitoral de domingo dita que, a 7 de Maio, os dois candidatos voltem às urnas para saber quem é que os franceses preferem para ocupar o cargo do Eliseu.
Mas, para além de decidirem os dois nomes que surgirão no boletim de voto no próximo dia 7, as eleições de domingo mostram mais alguma coisa.
O colapso dos partidos tradicionais em França
Socialistas e Republicanos. Desde 1981, o presidente francês é oriundo de um destes partidos (ou dos seus antecessores, uma vez que, por exemplo, Os Republicanos sucedem à União por um Movimento Popular,de Chirac).
Desta vez, não foi assim. Com Macron e Le Pen na segunda volta, os dois partidos "tradicionais" conseguem, nestas eleições, cerca de 26% dos votos, contra uma maioria de 74% que não votou nos partidos até hoje dominantes no panorama político francês.
Em 2007, nas eleições que deram a vitória a Sarkozy, os dois partidos do "centrão" representavam 57% dos votos dos franceses.
Ainda que a fraca prestação dos partidos mainstream franceses se possa dever à grande impopularidade de Hollande, aos casos de corrupção que assombraram a campanha de Fillon ou, até, a uma certa incapacidade de Hamon para mobilizar o eleitorado de esquerda, a verdade é que o descontentamento com a classe politica eflectiu-se nestas eleições.
Os franceses preferiram os candidatos que se apresentaram contra as elites.
Um Partido Socialista em vias de "pasokizar"?
Para o Partido Socialista Francês (PSF), o resultado de domingo foi o pior de sempre. Os 6,4% de votos conseguidos por Hamon contrastam com o pior resultado dos socialistas desde 1974, quando Lionel Jospin não foi aquém do 3.º lugar nas presidenciais desse ano.
O fraco resultado e a perda de bastiões socialistas, como a cidade Lille, fazem pairar sobre o PSF a sombra do PASOK, o partido socialista grego que perdeu relevância política.
Apesar de o candidato ter avisado, ao reagir aos resultados, que "a esquerda não está morta", o líder socialista reconheceu a derrota como uma "sanção histórica".
Frente Nacional consegue o melhor resultado de sempre...
A Frente Nacional apresenta-se pela primeira vez a eleições presidenciais em 1974, com o pai de Marine Le Pen, Jean-Marine Le Pen. Conseguiu 190 mil votos (0.8% dos votos) e fica em 7.º lugar na corrida eleitoral.
Quarenta e três anos depois e sete eleições disputadas, a Frente Nacional, já com a Marine Le Pen ao leme, consegue o seu máximo histórico numa trajectória onde só o resultado de 2007 contraria o percurso ascendente.
A barreira dos 20% é pela primeira vez batida e Le Pen consegue ficar em segundo lugar numa corrida ao Eliseu.
… Mas não é a primeira vez que vai à segunda volta
Apesar de este ser o melhor resultado da Frente Nacional numa disputa pela presidência, a verdade é que não é a primeira vez que o partido consegue chegar à segunda volta numas eleições que tradicionalmente são disputadas em duas idas às urnas.
Em 2002, Jean-Marine Le Pen empurrou para fora da segunda volta o socialista Lionel Jospin, por uma margem de 0.68 pontos percentuais. Na segunda volta, disputada contra o histórico conservador Jacques Chirac, e com todos os partidos a apelarem num voto contra a extrema-direita, a Frente Nacional não foi aquém dos 17.79%. Chirac recebeu 82% dos votos e foi reeleito.
C'est l'économie, stupide!
O velho adágio de que os eleitores votam com a carteira parece voltar a reflectir-se na geografia da distribuição de votos nas eleições francesas.
A Frente Nacional conseguiu a maioria dos seus eleitores em zonas com altos níveis de desemprego e salários baixos, conquistando o eleitorado com a promessa de barrar a entrada de estrangeiros e renegociar os acordos estabelecidos com a União Europeia. Os últimos dados mostram que um em cada 10 franceses economicamente activos estão desempregados.
Do lado oposto do espectro social está Macron. As promessas de uma liberalização da economia, da flexibilização das leis laborais, mas também as propostas mais progressistas convenceram os grandes centros urbanos como Paris e Bordéus.