"É agora ou nunca". Mundo tem que largar "vício" dos combustíveis fósseis
09-08-2021 - 19:40
 • Beatriz Lopes , com redação

Relatório dos peritos das Nações Unidas alerta que o aquecimento global está a ocorrer de forma ainda mais rápida do que se temia. A Renascença falou com Francisco Ferreira, da Zero, e com Filipe Santos Duarte, especialista em ambiente e professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

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"É agora ou nunca e este é o último aviso dos especialistas climáticos". É assim que a associação ambientalista Zero manifesta preocupação com as conclusões do relatório dos peritos das Nações Unidas sobre as alterações climáticas.

O documento, divulgado esta segunda-feira, alerta que o aquecimento global está a ocorrer de forma ainda mais rápida do que se temia. Os especialistas alertam que, por volta de 2030, pode ser alcançado o limite de um grau e meio de aumento da temperatura, que se previa que só fosse acontecer 10 anos mais tarde.

Em declarações à Renascença, o presidente da Zero, Francisco Ferreira, diz que é urgente, por exemplo, pôr fim à queima de combustíveis fósseis.

“Estamos muito perto desse limite crítico que é 1,5 graus e a queima de combustíveis fósseis, principalmente gás natural, que continua a ser vendido como um combustível de transição, tem que ser claramente substituída, além do petróleo e do carvão, por fontes renováveis.”

O presidente da Associação ambientalista Zero alerta que ainda não fazem parte deste relatório as consequências das cheias e dos incêndios que temos vindo a assistir nos últimos meses.


"Muita esperança" em Glasgow

O especialista em ambiente Filipe Duarte Santos vê uma janela de esperança na cimeira do Clima que em novembro terá lugar em Glasgow, no Reino Unido.

O professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa acredita que o encontro vai permitir que os países assumam compromissos e que não há outra opção que não seja reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa.

“Há realmente muita esperança em relação a esta reunião. É, sobretudo, haver compromissos dos vários países para atingirem a neutralidade carbónica. A União Europeia tem um plano para atingir a neutralidade carbónica em 2050, a China em 2060, mas há muitos países que ainda não têm, como a Índia, por exemplo. Há um conjunto de países com economias desenvolvimento que vão precisar da ajuda dos países desenvolvidos para fazer a transição energética.”


Filipe Duarte Santos sublinha que sempre houve uma enorme resistência da indústria dos combustíveis fósseis à transição energética, mas que começa a ser racional que não há outra opção, tendo em conta que em todos os países há manifestações claras dos efeitos das alterações climáticas, em especial no Mediterrâneo, em que o aumento da temperatura foi superior ao aumento global.

“Para evitar situações como as que temos assistido nas últimas semanas, como as inundações na Europa e na China ou os incêndios na Turquia, na Grécia, na Sibéria, nos Estados Unidos, a solução racional é fazermos a transição dos combustíveis fósseis para energias renováveis e que as pessoas tenham maior atenção à necessidade da eficiência energética”, sublinha Filipe Duarte Santos.

O secretário-geral da ONU alertou que o relatório dos especialistas climáticos das Nações Unidas é um verdadeiro "alerta vermelho" para a humanidade e "deve pôr fim" às energias fósseis.

António Guterres pediu que a partir deste ano não se construam mais centrais térmicas a carvão e que haja limites na produção de energias fósseis, com maior aposta nas energias renováveis.