"Não são os eleitores que estão errados, somo nós". Uma frase de Luís Montenegro a abrir o congresso do Porto esta sexta-feira e que soou a ajuste de contas com a liderança cessante de Rui Rio. E neste sábado, o PSD continua a fazer a catarse do desaire eleitoral das legislativas, ora com os delegados a atribuírem culpas à anterior direção, ora a darem a táctica ao novo líder sobre como ganhar eleições.
Domingos Massena tem uma explicação para a fuga do eleitorado tradicional do PSD. Subiu ao palco do Pavilhão Rosa Mota para dizer que há "ausência do discurso urbano" no partido que "tem delapidado a representação política social-democrata nos lugares de decisão política".
Este delegado ao Congresso vem de Sintra e conclui que "milhares de pessoas se sentem órfãs da social-democracia que anseiam, mas não encontram". E concretiza que "precisamos de um PSD urbano forte", avisando a futura liderança que "quanto mais a social-democracia se silencia sobre os problemas mais perde para os extremismos, para a oposição e adversários políticos sem a nossa consciência social".
A mesma tática é dada pelo delegado Inácio Rosa, que num discurso curto e grosso avisou Montenegro: "as eleições não se ganham sem o povo, para isso teremos de o conquistar". Mas antes disso, "primeiro a nossa coesão terá de ser efetiva", avisa.
Neste segundo dia de Congresso, Montenegro falou à chegada ao Pavilhão que o partido vive "um período de grande unidade e coesão". Ora, Inácio Rosa avisa que isso tem mesmo de valer porque "exército dividido não ganha batalhas", aconselhando que o partido se deixe de 'ismos" para ser "um todo responsável".
Sim, há "um novo líder com votação nada despicienda", acrescenta este delegado, "mas mesmo por esse facto não pode haver vencidos nem vencedores, quem venceu foi o partido e o partido somos todos nós militantes". O foco "é o de ganhar as legislativas" e é preciso "ter toda a gente a remar para o mesmo fim".
O conselho é que o partido não entre em ajustes de contas com passado imediato de Rio. Mas que os há, há. É o caso de Henrique Ascenso Gomes, dirigente do Algarve que salientou a "encruzilhada" do PSD dizendo-se "disponível" para contribuir para o sucesso de Montenegro "e retomar o bom clima que foi interrompido com as distritais", numa farpa a Rui Rio.
Para este dirigente do Algarve "foi pena que a anterior liderança o tivesse interrompido, ultrapassando as decisões das comissões políticas, calando as nossas melhores vozes e mandando para o banco dos suplentes alguns dos nossos melhores". Ora, o conselho é que se "acabe de vez com este período bizarro" e "fazer tudo ao contrário: ouvir as bases e ser dialogante, não renegar as distritais nem as concelhias".