O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, comparou este sábado o anúncio do Governo de investimento na ferrovia em Portugal a outras promessas feitas no passado sem que até agora tenha sido comprado nem um comboio.
Jerónimo de Sousa referiu-se, num discurso em Bragança, ao anúncio feito, na quinta-feira, pelo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, de que o Governo autorizou a realização de despesas para concretizar um plano de investimento da CP - Comboios de Portugal em material circulante ferroviário.
"Este Governo está em funções há seis anos, este é para aí o 20.º anúncio da aquisição de comboios, mas por enquanto só chegou à CP algum material rebocado e em segunda mão", afirmou.
Para Jerónimo de Sousa, "uma pessoa mais distraída deve considerar que em Portugal existe um ritmo frenético de investimento na ferrovia, mas infelizmente não existe".
"Frenético só mesmo o ritmo dos anúncios e das promessas", considerou.
O secretário-geral do PCP notou que "foi impossível não reparar que para apresentar esta sua promessa, o Governo usou exatamente as mesmas palavras que um outro Governo usou em 2009, quando então se anunciava a compra de 102 comboios".
"Foi igualmente apresentada como o maior investimento de sempre na aquisição de material circulante. Nem um foi comprado ainda, esperemos que os tais 139 agora anunciados tenham melhor taxa de concretização", enfatizou.
Jerónimo referiu também que no mesmo anúncio o ministro da tutela "voltou a falar da construção de comboios em Portugal" e "tendo em conta que o PCP anda há anos a propor isso mesmo", deveria ficar satisfeito, "mas o problema com este ministro é a prática".
O líder comunista concretizou que "os 22 comboios cujos contratos de aquisição já assinou vão ser comprados a uma empresa suíça e não são construídos em Portugal. Os 14 comboios para o metro de Lisboa foram encomendados à mesma empresa e serão feitos em Espanha".
"Assim não vamos lá, é preciso romper com este caminho, deixar de ir às compras como e onde União Europeia nos autoriza e organizarmos a produção em Portugal, planificar a satisfação das necessidades nacionais de comboios a 15 anos, programar o investimento necessário para o alcançar, usar esse investimento para alavancar a construção de comboios em Portugal", acrescentou.
Na quinta feira, o Governo aprovou um concurso para a aquisição de 117 novas automotoras elétricas pela CP, num valor de 819 milhões de euros, a "maior compra de sempre" da operadora, disse então ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos.
O concurso foi aprovado em Conselho de Ministros, sendo que o Governo espera que o primeiro comboio chegue em 2026 e que a totalidade das composições esteja em circulação em 2029.
O ministro adiantou que o objetivo deste concurso é "substituir material obsoleto, dar resposta à procura presente que hoje já coloca uma grande pressão da procura", recordando ainda que se soma a este procedimento mais 22 comboios, cujo concurso tinha sido lançado há algum tempo, adjudicadas à empresa suíça Stadler.