O Vaticano revelou que, só na segunda-feira, 65 mil pessoas homenagearam o Papa emérito e que, nesta terça-feira, o número atingiu os 70 mil. Ou seja, quase 150 mil pessoas, de todas as idades, esperaram em demoradas filas para um último adeus a Bento XVI.
A estupefação com os números não é só da parte da organização vaticana - cujas previsões iniciais apontavam para muito menos gente - mas é também dos jornalistas que, nestes dias, se concentram na zona do Vaticano (há cerca de 600 profissionais acreditados para acompanhar as exéquias do Papa emérito).
A realidade demonstra que Bento XVI tão atacado e criticado durante tantos anos, por certos sectores da opinião pública, afinal é amado por um povo anónimo que sai à rua para uma última homenagem ao Papa alemão.
Perante estes factos, a imprensa italiana recorda o fenómeno popular que também sucedeu após a morte de João Paulo II e revela que muitos fiéis já o consideram santo. De resto, a sua lucidez e profunda humildade levou o Papa Francisco a considerá-lo, numa entrevista recente, com “um homem grande, um santo”. Nestes dias, também alguns sectores mais intelectuais começam a designar Bento XVI como “Doutor da Igreja”.
Ainda, a propósito das multidões que vieram a Roma após a morte de João Paulo II, há, no entanto, uma diferença interessante. É que, em 2005, o Papa era reinante, enquanto Bento XVI, resignou há quase dez anos, facto que não fez diminuir a sua popularidade.
Presenças significativas
Apesar das exéquias contarem só com a presença de duas delegações oficiais, a da Alemanha e a de Itália, vários chefes de Estado já confirmaram a sua presença, incluindo os presidentes de Portugal, da Polónia, da Hungria, os reis da Bélgica e a rainha Sofia de Espanha, entre outros.
Numerosa é a presença de delegações ecuménicas, no total 23, com especial destaque para a representação do Patriarca de Moscovo, através do Metropolita Antony di Volokolamsk, responsável pelas relações exteriores do Patriarcado de Moscovo; e também da representação da Grécia, com a presença do Metropolita Ignatios di Dimitriade.
Uma nota divulgada pelo Vaticano refere que, nas exéquias de quinta-feira, além dos cinco cardeais que compõem a Capela Papal, conceberam também 120 cardeais e 400 bispos.
Presença especial será a do arcebispo emérito de Hong-Kong, o cardeal Joseph Zen, de 90 anos, preso no ano passado, acusado de participar num fundo humanitário (agora dissolvido) que, segundo a acusação, oferecia assistência e ajuda a manifestantes pró-democracia.
Em prisão domiciliária e com o seu passaporte confiscado, o cardeal Zen pediu para vir ao funeral de Bento XVI e a autorização judicial terá sido concedida pelo tribunal, nesta terça-feira. Vai poder sair do país por apenas cinco dias.
Segundo referem as agências internacionais, nas últimas horas, o cardeal Zen publicou um artigo a elogiar o Papa emérito como um “grande defensor da verdade”, agradecendo o contributo que deu à Igreja chinesa. “Ele não podia aceitar nenhum compromisso”, escreveu, referindo-se a uma carta que Bento XVI escreveu em 2007 aos fiéis da Igreja na China, onde pedia ao governo comunista de Pequim o respeito pela liberdade religiosa.